RIO - Primeira VJ a botar o rosto na MTV brasileira, Astrid Fontenelle sempre teve noção de que aquele momento - quando inaugurou o canal, ao vivo, com o clipe "Garota de Ipanema", de Marina Lima - entraria para a História da televisão. Acertou. No início da década de 90, éramos então apresentados a uma linguagem jovem e moderna para a época, tudo regado a muito videoclipe. Vista no começo como uma versão da matriz americana, a MTV verde e amarela encontrou identidade própria e chega em 2010, depois de 20 anos, se autoproclamando "a maior rede de televisão jovem do país". Com o poder de sempre se reinventar, o canal estreia nova programação a partir desta segunda-feira.
- Eu era um pouco mais espertinha do que os outros VJs ali. Para mim sempre foi importante pra caramba botar a emissora no ar e saber que fui a primeira a mostrar a cara no vídeo. Já tinha experiência na televisão, mas na MTV realmente aprendi a fazer aquilo - destaca Astrid, que comandou atrações clássicas como "Barraco" e "Pé na cozinha" durante seus nove anos no canal. - Tínhamos fama de ser um bando de maconheiros fazendo uma TV rock'n'roll. Fumamos muita maconha, mas nem tanto quanto achavam. Namoramos uns com os outros, mas não com todos. Nada que muito jovem junto não tenha feito antes.
Parte do primeiro time de VJs, que trazia ainda nomes como Zeca Camargo, Gastão Moreira, Cuca Lazarotto e Thunderbird, Maria Paula estava com 19 anos quando a emissora foi lançada em UHF no dia 20 de outubro de 1990 - no Rio de Janeiro a programação do canal também era sintonizada através da antiga TV Corcovado, que alugava seus horários vespertinos e noturnos para a MTV.
- Nossa, como eu era amadora! Tinha até uma piada dizendo que os VJs balançavam muito os braços, mas a gente era mesmo inexperiente. Todo mundo era muito jovem - frisa a atual musa do "Casseta & Planeta urgente!". - Não existia videoclipe brasileiro, fora aqueles exibidos pelo "Fantástico". Foi a MTV que começou a produzir os clipes de gente como Paralamas - recorda.
Ex-VJ e atual subprefeita da Lapa paulistana, Soninha Francine trabalhou nos bastidores do canal antes de virar apresentadora. Ela entrou na MTV em 1990, no segundo mês de existência do canal.
- Éramos uma tropa formada por estudantes de Jornalismo ou Rádio e TV que foram fazendo as coisas do seu jeito, às vezes desafiando os dogmas da MTV americana. Uma das coisas que mudamos foram os textos, com menos oba-oba e mais informação - entrega Soninha.
Diretor-geral do braço de TV do Grupo Abril, detentor hoje de 100% da MTV Brasil, André Mantovani comenta o impacto do canal.
- A estreia da MTV causou convulsão na linguagem na TV no Brasil. Viramos referência ainda para a publicidade, sem falar da nossa contribuição para o surgimento de vários artistas - enumera Mantovani, mais preocupado agora com o futuro. - Surgimos 100% musicais, propondo uma nova forma de comunicação através da TV. Mas agora a MTV é um canal de estilo de vida e comportamento jovem. Sempre atualizamos nosso vínculo com a nossa audiência e queremos estar fortes também em outras mídias, como a internet e o celular - completa.
Mais do que apontar tendências musicais, a MTV sempre ditou regras no campo do comportamento. Crítica de TV e professora de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Esther Hamburguer destaca essa função do canal.
- A MTV também foi importante ao dar espaço para a discussão de temas controvertidos, e importantes para os jovens, como a sexualidade e a intimidade - acredita a professora.
Para Mantovani, a essência do canal ainda é musical. Mas a novíssima programação, anunciada semana passada, dá sinais de que o humor, especialmente o feito por Marcelo Adnet, maior estrela da emissora na atualidade, ganha cada vez mais espaço.
- A gente sempre tentou se associar a jovens talentos bacanas - afirma a diretora de Produção e Programação do canal, Cris Lobo, ao destacar outra característica marcante.
De fato, a MTV é um dos canais que mais lançam nomes. Atualmente no Multishow, Edgard Piccoli enumera as experiências profissionais mais importantes que viveu nos 14 anos em que trabalhou no canal. Ele destaca as primeiras transmissões ao vivo de shows, com a banda australiana Midnight Oil, e as viagens para a praia durante os verões.
- Tive a honra de ser o único brasileiro a falar com o White Stripes e com o Pearl Jam na ocasião das vindas das bandas ao Brasil - conta Piccoli, que foi galã do canal, onde ganhou o apelido de "VJ pão". - Fui paquerado pela Cindy Lauper que acabou fazendo um convite um tanto indiscreto para que eu a apresentasse no show. Até aí tudo bem! Mas tinha um olhar lascivo e pulei fora. No final da entrevista com a Britney Spears a assessora dela veio dizer que ela comentou que enfim havia sido entrevistada por um homem bonito. Ser considerado belo pela Britney? Grande coisa! - esnoba.
Prolífera em musas, a MTV já apostou em Sabrina Parlatore, Fernanda Lima e Daniella Cicarelli. Ex-apresentadora do "Disk", Sarah Oliveira esteve no canal entre 1999 e 2006 e foi uma das VJs que uniam beleza e informação musical. Hoje, ela ainda se refere ao canal como uma "família".
- A gente tinha apenas um camarim para todos os VJs. Então já viu, né? Era o João Gordo peladão ou de cueca de um lado, eu pedindo para os meninos darem licença para me trocar do outro, e Didi Wagner chegando atrasada e pedindo para usar o provador rápido porque entraria ao vivo
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