sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Conversas com Antônio

Fonte: Carta Capital

Por Gil Alessi

Nem sorri. É uma expressão semelhante àquela da foto que estampa o pôster do Disque-Denúncia. Sentado numa cadeira de vime, na sala de estar de sua casa no topo da Rocinha, aproveita o momento de tranquilidade para brincar com as filhas e o filho. Em instantes, o sorriso dá lugar a uma expressão preocupada. Num pulo, segura a caçula pelo braço. “Menina, me dá aqui essa tesoura”, diz, ao tirar das mãos da criança o utensílio e um pacote de goiabada. Senta-se, e termina o serviço, enquanto aplica um sermão: “Quantas vezes já te falei pra não mexer em tesoura de ponta? Se você quer alguma coisa, pede que eu abro”.

Sobre uma pequena mesa de centro na sala estão um walkie-talkie e o celular. Nem insere chips diferentes no aparelho, “para dificultar o rastreamento”. Mas o cerco apertou e o traficante passou a usar métodos mais antigos. Ordens e diretrizes importantes passaram a ser despachadas por carta, com uma instrução: queime depois de ler.