do Estadão
Frequentemente, a informação veiculada nos meios de comunicação produz um travo na alma. A sociedade desenhada no noticiário parece refém do vírus da morbidez. Crimes, aberrações e desvios de conduta desfilam na passarela da mídia. O goleiro Bruno foi o mais recente capítulo. Os telejornais, e até mesmo os diários mais sóbrios, ficaram de joelhos para o espetáculo. Assistiu-se ao circo da morte. O crime foi o resultado de alguns desvios: o machismo da sociedade que trata a mulher como objeto de posse descartável, a cultura da impunidade, a disseminação das drogas e os valores frágeis de garotas extasiadas com ícones de plástico, mas carregados de dinheiro e glamourizados pelas engrenagens do entretenimento.
Mas não vou falar do goleiro. Vou escrever sobre o avanço das drogas, que ameaça transformar o sonho da juventude numa terrível frustração. A violência avança, impune, no Brasil e o seu principal estopim - a distribuição e o consumo de drogas - continua fora da agenda pública e do debate dos candidatos.
No mercado da cocaína o Brasil exerce triste liderança. O País é hoje o maior espaço consumidor da droga na América do Sul e provavelmente o segundo maior nas Américas. Cresce em progressão geométrica a demanda doméstica. Ademais, somos, hoje, um importante corredor de distribuição mundial.
Multiplicam-se, paradoxalmente, declarações otimistas a respeito das estratégias da redução de danos. O essencial, imaginam os defensores da nova política, não é a interrupção imediata do uso de drogas pelo dependente, mas que ele tenha uma melhora em suas condições gerais. A opção pela redução de danos pode ser justificada em determinadas situações, mas não deve ser guindada à condição de política pública. Afinal, todos sabem que, assim como não existe meia gravidez, também não há meia dependência. Embora alguns usuários possam imaginar que sejam capazes de controlar o consumo, cedo ou tarde descobrem que, de fato, já não são senhores de si próprios.