Fonte: O Dia
Rio - Julita Lemgruber não foge à polêmica. Coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Cândido Mendes e ex-diretora do Departamento do Sistema Penitenciário do Rio, a socióloga apoia a descriminalização das drogas como a única forma de melhorar o caótico sistema prisional do país. Ela afirma que a imensa maioria dos presos por tráfico é de pessoas sem a menor importância na cadeia do negócio. Ao chegarem aos presídios, elas se ‘diplomam’ no crime organizado. Julita defende a revisão da Lei 11.343 e garante que hoje, no Brasil, apenas negros e pobres são presos por tráfico. “Quem tem dinheiro escapa como usuário.”
O DIA: A senhora é favorável à legalização das drogas. Por quê?
JULITA: Acho que as drogas foram usadas sempre por diferentes sociedades, em diferentes momentos da humanidade, seja ritualisticamente, seja recreacionalmente. É uma ilusão acreditar ser possível um mundo sem drogas. Esta é uma questão de saúde pública, o uso e o comércio de drogas não podem ser tratados como temas da Justiça criminal. É melhor tratar isso de forma a causar menos danos à sociedade. O problema não é o uso, é o abuso da droga. Muita gente consome droga socialmente sem problema. O problema é quando se torna um consumo compulsivo e abusivo. O álcool também é droga, mas a gente aceita naturalmente. Semana passada uma pesquisa mostrou que o álcool é o grande vilão da saúde pública do Brasil, nas emergências, nos acidentes de trânsito, mas este não é um tema de polícia. Hoje o governo encara de frente o consumo do tabaco, há campanhas de prevenção, de esclarecimento, sobre o uso do cigarro. Nos últimos 20 anos caiu o consumo, mas por pressão social. Quem tem coragem para puxar um cigarro dentro do restaurante? Por que não podemos fazer o mesmo em relação às drogas? Precisamos reduzir os danos e prevenir o uso abusivo.