da Veja.com
Quando a sociedade abdica do controle restritivo sobre uma substância ou droga de abuso, o número de usuários cresce. E é claro que todos pagamos a conta. Basta observar o que se passa com o tabaco e o álcool. Segundo levantamento da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), metade da população brasileira não bebe, mas divide a conta através da sobrecarga ao sistema público de saúde. Também de acordo com a Senad, um quarto dos brasileiros fuma e os outros três quartos dividem mais esta conta.
Os números atuais de usuários regulares de maconha ainda são da ordem de um dígito apenas (segundo levantamento da Senad, 8,8% dos brasileiros já consumiram maconha alguma vez na vida). Parece um índice baixo, mas já é relevante pelo impacto em desempenho e problemas de saúde produzidos. Qualquer medida legislativa ou em políticas públicas que acrescente glamour ou percepção de benignidade à maconha vai expandir o número de usuários.
A valorização apressada de potenciais usos terapêuticos da maconha acaba aliando-se aos esforços de ampliação do número de usuários. Como médico e como presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas), sou sempre favorável a quaisquer esforços científicos para a ampliação de recursos terapêuticos, mesmo envolvendo a pesquisa com drogas que podem causar dependência, como a maconha. Contudo, também sou favorável ao zelo pelo prestigio da ciência, valorizando a divulgação de resultados maduros e confiáveis.
Os achados relativos a potenciais benefícios do uso da maconha e de seus derivados merecem atenção, mas também parcimônia na divulgação como verdades científicas clinicamente úteis. Pensando neste panorama de interesse geral da comunidade, quem dos leitores está disposto a dividir mais esta conta, a dos potenciais novos usuários de maconha?
* Carlos Salgado é psiquiatra e presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)
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