do Estadão
Entrevista com Luiz Fernando Corrêa. Diretor-geral da PF
O que faz o senhor pensar que EUA e Europa vão ceder e trocar a política da "guerra às drogas" pela "corresponsabilidade"?
Esse novo conceito, o da corresponsabilidade, tende a dominar o mundo porque é lógico, racional e civilizado. A Europa e os Estados Unidos sempre nos olharam como fornecedores e responsáveis pelo mal que atormenta suas populações. Ocorre que tanto Europa como EUA são hoje grandes produtores de drogas sintéticas, que vêm de lá para cá em quantidade cada vez maior. Por essa lógica, nós também somos vítimas das drogas produzidas no primeiro mundo. O fato é que o problema é de todos e nós precisamos nivelar o debate mundial em torno da corresponsabilidade.
As estatísticas mostram que o consumo de drogas, sobretudo maconha, cocaína e crack, aumentou substancialmente no Brasil. Diante dessa situação, como o Estado brasileiro pratica o seu combate corresponsável?
Estamos empenhados em reverter essa tendência e os resultados são animadores. No caso da maconha, em vez da tradicional política de fazer operações repressivas na fronteira, firmamos um acordo de erradicação com o Paraguai, o principal produtor da droga para o mercado brasileiro. Graças à parceria, a oferta caiu drasticamente nos últimos dois anos. Só em 2009 foram erradicados 924 hectares de maconha no Paraguai, um golpe importante no tráfico. Com isso, evitamos que entrassem no Brasil 2,3 mil toneladas de maconha para consumo.
E as drogas mais pesadas?
No caso da cocaína, vamos implementar política semelhante com a Bolívia, que aumentou sensivelmente a área plantada de coca nos últimos anos.
Por que Bolívia, se a Colômbia é o maior produtor mundial?
Quase toda a cocaína produzida na Bolívia destina-se ao abastecimento do mercado brasileiro. O Peru e a Colômbia exportam a droga para a Europa e os EUA. Vamos adotar com a Bolívia a mesma política de corresponsabilidade que vem dando certo com o Paraguai. Não vamos atribuir a eles a responsabilidade exclusiva, nem partir para a estigmatização. Do nosso lado, estamos dificultando a vida dos produtores que agem além fronteira. O aumento do consumo de crack, droga rudimentar derivada da coca na ausência de componentes essenciais, decorre da política bem-sucedida no controle de insumos no lado brasileiro.
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