quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Holanda retrocede nos tratamentos com LSD

do RNW

O uso de drogas psicodélicas como meio terapêutico tem sido tabu na Holanda desde o fim dos anos 60. Antes disso, cientistas holandeses registravam resultados surpreendentes no tratamento de pacientes psiquiátricos com LSD. LSD e ecstasy são atualmente permitidos em centros de tratamento na Alemanha, Suíça e Estados Unidos, mas a chance de que o LSD volte a ser usado legalmente na Holanda é pequena.

Willemien Groot e Gita Jagessar

“A comunidade científica holandesa está querendo fazer mais pesquisas sobre experimentos com drogas psicodélicas”, diz o professor Ruud Kortekaas, do Centro Médico Universitário de Utrecht. “Há muitos pesquisadores que gostariam de trabalhar com isso, mas a grande questão é: quem vai financiar e quando o governo dará sinal verde?”

Último recurso

Na medicina psicodélica, LSD e MDMA – principal componente do ecstasy – são utilizados em diferentes métodos de tratamento. Por exemplo, no tratamento de transtornos de estresse pós-traumático, como explica o professor Stephen Snelders, do Centro Médico da Universidade Livre de Amsterdã. “Na Suíça, há médicos trabalhando com isso. Lá eles não usam LSD mas MDMA ou ecstasy, porque tem um efeito menos intenso. Em Israel também foram feitos experimentos.”

Segundo Snelders, drogas psicodélicas são um último recurso para pacientes difíceis de tratar ou pessoas com um problema muito específico. “Pense em viciados em drogas pesadas, mas também em pacientes terminais, que recebem LSD, de certa forma, para experimentar o que acontece quando se morre.

Traumas de guerra

No passado, cientistas holandeses tinham grande participação nas pesquisas sobre drogas psicodélicas. Foi assim que teve início o uso destas drogas no tratamento de estresse pós-traumático. Nestes casos, o LSD pode eliminar barreiras no cérebro, fazendo com que experiências traumáticas venham à tona com mais facilidade. Mesmo que estejam reprimidas há anos.

O professor Jan Bastiaans desenvolveu nos anos 50 e 60 um tratamento que ajudou dezenas de combatentes da resistência e sobreviventes dos campos de concentração com seus traumas de guerra. Nestes círculos, ele ainda é muito admirado por isso.

Com a proibição do uso do LSD a partir de 1966, psiquiatras tinham que ter uma licença especial para continuar a tratar seus pacientes com a droga. Bastiaans foi o único que continuou a fazê-lo até os anos 80. Quando ele se aposentou, o método de tratamento também foi abandonado. As pesquisas não davam provas suficientes de que o LSD funcionava.

Experiência norte-americana
Psiquiatras nos Estados Unidos tiveram o mesmo problema, mas optaram por reiniciar as pesquisas. Com isso, nos últimos 20 anos diferentes alucinógenos foram testados cientificamente e aprovados pelo FDA (American Food and Drug Administration). O LSD é hoje considerado remédio – com rígidas limitações – e pode ser utilizado em pesquisas sobre o funcionamento do cérebro.

Segundo o professor Ruud Kortekaas, a pesquisa de drogas psicodélicas em grande escala é resultado de um lobby extremamente ativo nos EUA. “Eles são muito bons em associar a política a estas pesquisas, de maneira que conseguem licenças para seus experimentos com mais facilidade. Além disso, os pesquisadores trabalham de maneira transparente. Todas as descobertas são divulgadas ao público e isso tem um efeito positivo na aceitação.”

Na Holanda, falta uma captação de recursos ativa. Com isso, cientistas ficam inteiramente dependentes do governo para o financiamento de pesquisas.

Sem chances

Resta saber se o LSD voltará a ser utilizado em tratamentos na Holanda. A droga ainda guarda as associações negativas dos anos 60. “O governo holandês não quer incidentes com drogas que são proibidas e que causaram problemas no passado”, acredita Snelders. Pelo mesmo motivo, praticamente não há dinheiro para pesquisas nesta área. Mas Kortenkaas acha que o tabu sobre drogas alucinógenas está desaparecendo.

E também há razões práticas. O efeito do LSD ou MDMA é diferente para cada paciente. Mesmo uma diferença mínima na dosagem pode provocar uma outra reação. O tratamento requer por isso um envolvimento enorme do médico. E para fabricantes de medicamentos é mais fácil e barato desenvolver um remédio que traga a mesma bula para todos.

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