sábado, 11 de setembro de 2010

Produção de tabaco cresce mas negócio está "morto"

do DN

2009 foi um ano atípico porque houve alguma diversificação de clientes que pagaram preços mais razoáveis pelo tabaco

Portugal produziu 2,1 mil toneladas de tabaco em 2009, o valor mais alto dos últimos três anos. Mas os produtores dizem que o crescimento ficou a dever-se a "razões meramente conjunturais" e que este ano a produção ficará "por metade".

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, entre 2008 e 2009 as explorações de tabaco em folha cresceram de 391 para 590 hectares, o que se traduziu num aumento da produção da ordem dos 70%.

A subida deveu-se a um maior cultivo do tipo Virgínia (tabaco curado artificialmente em estufas aquecidas a gás), cuja produção final se saldou em duas mil toneladas. Já o tipo Burley (curado ao ar livre e com custos de investimento mais baixos) praticamente desapareceu, não tendo sido produzidas mais de 59 mil toneladas. Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Fundão e, em menor escala, Ponte de Sor são os municípios onde mais se produz tabaco.

As 2,1 mil toneladas produzidas em 2009 correspondem a um terço da média registada durante os anos dourados da produção de tabaco em Portugal, entre 2000 e 2004, quando esta cultura era considerada pelos produtores como uma espécie de "mealheiro", por proporcionar altas rendibilidades.

Depois chegou o desligamento da produção, que se traduz por um pagamento único às explorações em vez de ajudas dirigidas a um determinado produto, e a cultura do tabaco deixou de ser rendível. Ou melhor, os agricultores passaram a obter uma maior rendibilidade deixando de produzir.

"O desligamento de 50% foi uma decisão desastrosa do Ministério da Agricultura, pois o produtor tinha mais dinheiro estando quieto do que a trabalhar para aquecer. Ou se desligava o mínimo, 40%, e alguns produtores mantinham as explorações, ou se acaba com estas ajudas, o que permitiria reconverter as culturas", diz o presidente da Associação dos Produtores de Tabaco (APT), António Abrunhosa. "Deste ponto de vista, a gestão de Jaime Silva na pasta da Agricultura foi uma catástrofe maior do que muitas tempestades". Segundo os agricultores, o resultado destas decisões políticas foi o "abandono maciço" da cultura, cuja produção caiu das seis mil toneladas anuais para pouco mais de mil, originando o desemprego de mais de mil trabalhadores sazonais. "O que foi feito com o tabaco é um crime, pois assistimos à aniquilação deliberada de uma cultura sem qualquer motivo."

O problema é que a cultura "não é rendível" sem ajudas à produção. As contas da APT revelam que os preços "não cobrem os custos" uma vez que um quilo de tabaco tipo Virgínia é vendido, "na melhor das hipóteses, a 2,8 euros quando os custos de produção ascendem a cerca de três euros por quilo.

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