terça-feira, 6 de julho de 2010

Brasília é o segundo lugar do país onde as mulheres mais consomem álcool

do Correio Braziliense

As mulheres do Distrito Federal são as segundas no ranking das que mais consomem bebida alcoólica no país. É o que apontou uma pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2009, do Ministério da Saúde. O levantamento foi feito nas 27 unidades da Federação e divulgado no mês passado. Entre as entrevistadas brasilienses, 16,5% afirmaram ter ingerido quatro ou mais latas de cerveja ou quatro doses de bebidas destiladas em uma só ocasião, nos últimos 30 dias. Essa quantidade é considerada abusiva pelo ministério. As brasilienses ficam atrás apenas das mulheres de Salvador (BA), onde 17,1% admitiram ter o hábito de beber além da conta indicada. O terceiro lugar ficou com Vitória (ES), com 14,8%.

Os números, porém, não são sobre alcoolismo (veja Palavra de especialista) e apenas tentam refletir os hábitos da população. Somente maiores de 18 anos foram entrevistados. Basta olhar para as mesas de bar em Brasília para confirmar as estatísticas. A servidora pública Eliane Gaspar, 43 anos, moradora da Asa Sul, vai a bares pelo menos três vezes por semana. Costumar beber, em média, duas garrafas de cerveja quando sai. Ela não considera a quantidade um abuso.

“Eu bebo bem, tomo uns oito copos. Ir ao bar é legal para encontrar os amigos, conhecer gente nova, relaxar e se divertir. Não tem nada demais”, afirmou. A amiga de Eliane e também servidora pública Gabriela Novaes, 38, não gosta tanto assim de beber, mas acaba tomando um ou dois copos de cerveja quando vai ao bar. “Não tenho costume, mas bebo só para acompanhar os amigos. Por iniciativa própria, eu nem beberia”, disse Gabriela. As duas são saudáveis.

Uma má notícia para as mulheres que gostam de beber: a saúde delas é menos resistente ao álcool que a dos homens. “Tanto a mulher quanto o idoso têm uma possibilidade de lesão de órgãos mais alta. Isso acontece por uma questão de peso e da distribuição de água no corpo. A mulher tem uma enzima que ajuda a degradar o álcool em menor quantidade. A capacidade feminina de metabolizar o álcool pode ser 50% menor que a do homem”, explicou o médico gastroenterologista do programa de alcoolismo do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Ricardo Jacaranda. Segundo ele, para desenvolver uma cirrose, o homem precisa consumir de 60g a 80g por dia de bebida todos os dias durante 10 anos. Com apenas a metade dessa quantidade, a mulher já tem mais tendência a ficar doente.

Os maiores índices de ingestão dessa substância entre homens foram observados em Teresina (38,1%), Boa Vista (36,4%) e Macapá (36,1%). No DF, 24,4% dos homens assumiram exagerar nas doses e apareceram no 24º lugar da lista. Sendo que, para o sexo masculino, é considerado exagero da quinta dose em diante. No ranking nacional, sem diferenciação por sexo, o DF ficou em 13º lugar, com 20,2% dos entrevistados assumindo que bebiam mais de quatro doses por vez. Salvador aparece novamente como a cidade onde as pessoas mais abusam da bebida (25,6%). O menor consumo foi registrado em Curitiba (13,9%).

Aumento

Na edição anterior da pesquisa, em 2008, apenas 7,4% das brasilienses afirmavam consumir álcool em excesso. A porcentagem mais que dobrou em um ano. Somando homens e mulheres, o índice de consumo era de 18,4%, no DF. O Ministério da Saúde aplicou a Vigitel pela primeira vez em 2006. Nessa época, entre mulheres, as maiores frequências de ingestão de álcool haviam sido observadas em Recife (12,1%), Salvador (13,0%) e Belo Horizonte (13,2%) e as menores, em Curitiba (4,6%), São Paulo (5,1%) e São Luís (6,0%). Na ocasião, 8,7% das brasilienses afirmaram consumir álcool com exagero e estavam em 10º lugar na lista.

Segundo especialistas que elaboraram a pesquisa, os dados denunciam um problema de saúde pública, cujos efeitos repercutem no bem-estar físico e mental da população. “Entre as consequências ocasionadas pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas, destacam-se as doenças cardiovasculares, neoplasias, absenteísmo (aposentadorias precoces e hospitalizações), acidentes de trabalho e de trânsito, violência, suicídios e elevada frequência de ocupação de leitos hospitalares”, informa o estudo do Ministério da Saúde.

A média nacional de consumo de álcool entre mulheres é de 10,4% e entre homens é quase três vezes maior, 28,8%. Com relação às faixas etárias mais afetadas, o estudo revela uma tendência nacional. Os jovens são os mais vulneráveis. Mais de 30% dos homens com idades entre 18 e 44 anos admitiu o exagero e 10% das mulheres na mesma faixa etária deram tal resposta. A partir dos 45 anos, o consumo abusivo de bebidas alcoólicas declina progressivamente até chegar a 8,4% entre os homens e 1,5% entre as mulheres com 65 anos ou mais. E uma constatação surpreendente: quanto mais escolaridade, maior é o consumo de bebida alcoólica.

Palavra de especialista
Atenção aos prejuízos

“A pessoa é considerada alcoólatra quando tem prejuízos em áreas importantes da vida por conta da dependência. Perdeu o emprego, negligenciou os filhos, a casa, o dinheiro, a família por conta da bebida. O indivíduo percebe o motivo de suas perdas, mas não consegue parar de beber. Alguns estudos correlacionam o alcoolismo à hereditariedade. Mas qualquer pessoa pode desenvolver a doença. As dependências física e a psicológica estão juntas. Só tomar remédio não adianta. É preciso conversar para promover uma mudança de comportamento. O alcoolismo é preocupante porque o mundo inteiro é muito tolerante ao álcool.”

Luciana Bayeh, psicóloga formada pela Universidade de Brasília (UnB), especializada em análise do comportamento e psicologia clínica

Critérios
Considera-se dose de bebida alcoólica uma dose de destilado, uma lata de cerveja ou uma taça de vinho. Os questionários da Vigitel são aplicados poro telefone. Na capital do país, o Ministério da Saúde sorteou 2.010 linhas telefônicas: 832 de homens e 1.178 de mulheres. O objetivo do estudo é traçar um perfil da saúde dos brasileiros.

Eu acho...

"Vou ao bar uma ou duas vezes por semana. Tomo pelo menos uns cinco copos de cerveja. As amigas sempre me acompanham. Não vejo problema nem exagero nisso. É algo muito natural em Brasília ir beber em barzinhos."

Rosana Andrade, 36 anos, relações públicas, moradora de Sobradinho

"Brasília é uma cidade com deficiência de calor humano. O boteco é a única maneira de interagir. Não conheço nem os meus vizinhos. O jeito é ir para o bar jogar conversa fora. Cria-se o amigo de boteco e o ambiente favorece a bebida."

Maurílio Coppi, 63 anos, comerciante e morador da Asa Norte

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