Formada em Comércio Exterior no ano passado, Fernanda*, de 32 anos, é ex-usuária de cocaína. Segundo ela, a solidão e a vontade de fazer amigos em um ambiente novo são os motivos que tornam o consumo de drogas alto entre os universitários. “Muitos saem de casa, vão para outras cidades, ou mesmo perdem contato com os amigos de colégio. Quando chegam na faculdade querem se enturmar, procuram a turma mais popular e quem você acha que é o mais popular?”, ironiza.
Para ela, a estimativa da pesquisa da Secretaria Nacional Antidrogas, de quase metade dos universitários já terem usado alguma droga, é baixa. “Na prática é bem mais que isso. Acredito que 70%, pelo menos, já fumou maconha.” Um convite para o consumo acontece, geralmente, em uma festa. “A pessoa chega lá e todo mundo começa a usar. Ela vai na onda”. Maconha, ecstasy e LSD são a porta de entrada.
Usuária de cocaína desde os 16 anos, Fernanda já morou em outras cidades e países e diz que esse sentimento de “se encaixar” é comum em todo lugar. Curiosamente, na Europa, para onde foi com 20 anos para estudar, Fernanda passou por um período de abstinência de 5 anos. “Voltei a usar antes de voltar para cá, depois que tinha me separado”. Em cidades do interior, ela diz que pode ser ainda pior. “São jovens de classe média alta que não trabalham, ficam à espera de uma herança e preenchem algum vazio que sentem com as drogas.”
Hoje ela participa de um dos grupos Amor-Exigente de Curitiba, formados para ajudar as famílias que têm usuários de drogas. “É importante falar para dar esperança aos pais e também deixar os jovens menos curiosos, falando da parte ruim da droga. De como a gente sofre abuso e, muitas vezes, se prostitui só para conseguir um pouco mais”. Segundo Fernanda, a maior parte dos familiares, namorados e amigos de usuários que buscam apoio no grupo é vítima do crack.
*nome fictício.
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