terça-feira, 8 de junho de 2010

O novo público da indústria do tabaco

do VIVAcidade

A indústria do tabaco agora recruta entre as mulheres, especialmente as adolescentes, para repor os mais de cinco milhões de consumidores que morrem prematuramente por ano de câncer, ataques do coração, enfisema, asma e uma infinidade de doenças derivadas do tabaco. Diante da ofensiva das empresas do setor, a Organização Mundial da Saúde agita a bandeira vermelha e dedicou o Dia Mundial Sem Tabaco 2010, celebrado ontem, à oposição a essa campanha.

O diretor do programa da OMS Iniciativa Libertar-se do Tabaco, Douglas Bettcher, disse que o círculo vicioso em que se movimenta a indústria faz com que esta necessite de uma renovação permanente de suas reservas de futuras vítimas. Por isso, na última década, as companhias se dirigem aos países de baixa e média rendas, onde buscam novas populações entre as mulheres jovens, explicou.

A OMS alertou que os fabricantes de cigarros ampliam com agressividade suas campanhas de mercado com mensagens dirigidas às mulheres para aumentar o consumo em regiões do mundo, como África e sudeste africano, onde a taxa de consumo é bastante baixa. O mercado potencial de consumidores entre os homens está muito perto da saturação, pois já chega a 40% da proporção de homens fumantes no mundo. Por outro lado, o mercado feminino está praticamente virgem, pois é de apenas 9%. Em uma visão mais ampla, o total de fumantes chega a um bilhão de pessoas, das quais 200 milhões são mulheres.

Uma pesquisa preparada pela OMS indica que na metade dos 151 países pesquisados, as mulheres jovens fumam tanto quanto os homens da mesma idade. Porém, em alguns países, o número de meninas fumantes já supera o de rapazes. A organização observou que, em muitos países vinculados recentemente por tratados de livre comércio, a indústria do tabaco implementou estratégias de mercado voltadas às mulheres.

Nesses casos, as grandes fábricas internacionais patrocinam eventos, torneios de tênis feminino ou bailes públicos em locais frequentados por jovens. A intenção é criar uma imagem do consumo como promotor da saúde e do lazer. Nesse contexto, surgem outras formas de atração, como as marcas especiais para mulheres, os cigarros “suaves”, os preços reduzidos e até amostras grátis, que asseguram o êxito das estratégias entre as jovens.

Bettcher explicou à IPS que a OMS contra-ataca com mensagens em cartazes divulgados por ocasião do Dia Mundial Sem Tabaco. A publicidade da indústria transmite que o uso do tabaco libera e fortalece as mulheres na sociedade, quando não proporciona presenças mais atraentes sexualmente e mais estilizadas. “Nossas mensagens afirmam que isso não é verdade e que o tabaco mata em todas as suas formas e também é feio”, disse o especialista.

A campanha da OMS também oferece um serviço de assessoria para abandonar o vício, por exemplo, para grávidas, e também por meio do sistema escolar. A ação da entidade sanitária internacional tenta também incorporar os homens. Em países como China e alguns do sudeste asiático, a taxa de homens fumantes às vezes passa dos 50%. A campanha procura fazer os homens se conscientizarem do prejuízo que causam às mulheres e às crianças quando fumam em locais de trabalho ou em casa.

Bettcher disse à IPS que algumas das grandes agências de publicidade internacionais, que atendem as contas das companhias de tabaco, não compartilham dos princípios do Convênio Marco da OMS para o Controle do Tabaco, vigente desde 2005. Muitas dessas agências não aderiram totalmente às campanhas do convênio, acrescentou. Nos 26 países que até agora proibiram a publicidade, a promoção e o patrocínio do tabaco, cada vez mais há a compreensão de que existem alternativas para substituir a publicidade dessa indústria, assegurou.

As agências de publicidade são versáteis e apresentam outras opções para diversificar o mercado, disse o especialista da OMC. Quando começaram as proibições de publicidade, promoção e patrocínio, a indústria do tabaco pintou cenários apocalípticos para as agências afetadas. Mas nada disso aconteceu, disse Bettcher. As provas mostram que nessas 26 nações o negócio da propaganda não correu perigo nem sofreu prejuízos, ressaltou.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, recordou que mais de 1,5 milhão de mulheres morrem por ano devido ao uso de tabaco, a maioria em países de baixa e média rendas. Se não forem adotadas medidas concertadas, esse número poderá chegar a 2,5 milhões até 2030, acrescentou.

Por Gustavo Capdevila.
(*) IPS

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