sexta-feira, 21 de maio de 2010

Esclerose múltipla: especialistas portugueses descobrem efeito nocivo do tabaco no tratamento

do I Online

A equipa de esclerose múltipla do Hospital dos Capuchos descobriu que o tabaco tira eficácia aos medicamentos para tratar aquela doença do sistema nervoso central, num estudo que será publicado no jornal oficial da Sociedade Europeia de Neurologia.

A divulgação do estudo, no próximo sábado, acompanha o 15.º aniversário da consulta de esclerose múltipla nos Capuchos, que já tratou 800 doentes.

O neurologista Armando Sena disse à agência Lusa que o estudo, a publicar na próxima edição do Journal of Neurology, é "um pequeno contributo" que a equipa dos Capuchos dá para "conhecer melhor a doença e tratar melhor os doentes".

"O fumo pode estimular a produção de anticorpos que podem anular o efeito dos medicamentos", referiu, acrescentando que "ainda ninguém tinha olhado para essa possibilidade".

Os medicamentos usados no tratamento da doença (interferrão-beta) deverão ter uma "revolução a partir do próximo ano", indicou ainda Armando Sena, referindo-se ao aparecimento de medicamentos orais.

"O tratamento por injeção não é fácil, há muitos doentes que não reagem bem a serem injetados", explicou.

No futuro próximo, Armando Sena afirma ter "esperança de tratar a doença nas suas bases, na sua origem" e não apenas na ótica de prevenir os surtos, que podem levar à paralisia ou à perda de visão, consequências da deterioração da parte dos neurónios que transmite os impulsos nervosos de célula em célula no cérebro e na medula espinal.

A origem da doença permanece "um mistério", afirmou Armando Sena, que referiu que também não se sabe por que razão as mulheres são cada vez mais afetadas pela esclerose múltipla, numa proporção de três para um em relação aos homens.

Esse é um dos aspetos da doença que a equipa da consulta de esclerose múltipla do Hospital dos Capuchos está a investigar, estudando possíveis correlações com o uso da pílula anticoncecional.

Em Portugal, estima-se que hajam entre 5000 e dez mil pessoas afetadas pela doença, com 300 novos casos a surgirem todos os anos.

"É uma doença que ataca os jovens, jovens adultos e que afeta toda a vida das pessoas", afirmou Armando Sena.

Espasmos musculares, dor crónica, dificuldades de visão, audição ou equilíbrio e fadiga são alguns dos sintomas da doença, que ataca por crises, piorando progressivamente, até que pode levar à perda total das funções coordenadas pelo sistema nervoso central.

No sábado, entre as 10:00 e as 13:00, o Hospital dos Capuchos, em Lisboa, organiza uma conferência sobre o balanço de 15 anos e as perspetivas de futuro no tratamento, com a participação dos especialistas, equipa de enfermagem e de um dos primeiros doentes a ser tratado na consulta.

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