sexta-feira, 23 de abril de 2010

Anvisa estuda proibir a venda de cigarros aromatizados

do O Tempo

Fumante há seis anos, Paulo Oliveira Cintra se lembra de como o vício começou: alguns tragos em um cigarro mentolado. "Foi por curiosidade, o cheiro é mais agradável do que o do cigarro comum e não irrita tanto a garganta", diz o auxiliar administrativo, hoje com 23 anos.

O caso de Cintra exemplifica uma situação que as autoridades sanitárias brasileiras pretendem combater, a de que as substâncias aromatizantes misturadas ao tabaco causam uma maior possibilidade de dependência e despertam maior interesse no hábito de fumar, principalmente em adolescentes. Por esse motivo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estuda proibir a comercialização desse tipo de cigarro no Brasil. A proibição buscaria acabar com a venda de produtos de tabaco com chocolate, baunilha, cravo e outros condimentos que podem atrair crianças e adolescentes ao fumo.

"Os sabores têm um papel preponderante na iniciação ao fumo entre jovens e adolescentes. Quem fuma sabe que no primeiro contato há tosse e certa rejeição, e os sabores reduzem esse impacto", disse ao site Último Segundo o chefe da Unidade de Controle de Produtos Derivados de Tabaco da Anvisa, André Luiz da Silva.

Segundo um comunicado do Instituto Brasileiro de Auditoria em Vigilância Sanitária, Inbravisa, a proibição da Anvisa pode sair ainda este ano. "Hoje em dia se encontram no mercado cigarros de menta, cravo, cereja, chocolate, baunilha, substâncias que mascaram o sabor e dão a sensação de maior prazer ao fumar", explica Rui Dammenhain, especialista em vigilância sanitária e diretor do Inbravisa.

Comportamento. A opinião do dirigente é compartilhada até por quem vende o produto, como Ruimar de Oliveira Junior. Segundo o empresário, o consumidor dos cigarros aromatizados tem um comportamento atípico em relação ao tabagista comum. "Percebo que quem fuma cigarros mentolados, ou com cravo e canela, são realmente os fumantes iniciantes, os curiosos", diz.

Apesar de comercializar cinco tipos diferentes de cigarros mentolados, Ruimar conta que é a favor da proposta de se proibir a venda desse tipo de produto no Brasil. "A preocupação da Anvisa não é exagerada nesse ponto. Ela procede. Vejo que acontece muitas vezes de o jovem querer parecer mais adulto diante da turma e experimentar um cigarro mentolado. Pode ser que ele nem volte a fumar mais, mas começa assim", afirma Ruimar, para quem o fumante noviço logo deixa os aromatizados e passa para os cigarros comuns.

Exatamente o que aconteceu com o auxiliar de escritório Paulo Oliveira Cintra, que há muito adotou uma marca tradicional do mercado. Questionado sobre a mudança, Cintra diz que a sensação de frescor do cigarro aromatizado há muito ficou no passado. "No final, faz mal do mesmo jeito", diz.

Saiba mais sobre o cigarro aromatizado
Definição. O cigarro é uma pequena porção de tabaco (ou fumo) seco e picado, enrolado em papel fino ou em palha de milho para se fumar.
Aromatizados. Também chamados de cigarros de Bali, misturam o tabaco a substâncias aromáticas, como cravo, canela, chocolates e menta.
Perigo. O eugenol, uma substância presente no cravo, possui efeito analgésico e, quando fumado, pode levar à inalação de grandes quantidades de fumaça de nicotina com uma sensação de suave frescor.
Câncer. Estudos científicos têm demonstrado que a incidência de câncer é muito maior nos fumantes de cigarros de cravo do que nos fumantes regulares.

Estados Unidos já proibiram comércio

WASHINGTON. As autoridades sanitárias federais proibiram em setembro passado a venda de cigarros aromatizados. A Agência de Gerenciamento de Alimentos e Remédios, FDA na sigla em inglês, vai estudar agora a regulação de produtos mentolados e deu indicações de que em breve pode tomar atitudes similares em relação ao mercado ainda maior de charutos e cigarrilhas aromatizados.

“Esses cigarros aromatizados são a porta de entrada para muitas crianças e jovens adultos se tornarem fumantes”, disse a médica Margaret Hamburgo, comissária da agência ao anunciar a proibição.

Em 2004, fumantes de 17 anos tinham três vezes ou mais propensão ao uso de cigarros aromatizados do que aqueles com 25 anos ou mais, e viam esses produtos como mais seguros. Estudos mostram que, diariamente, 3.600 crianças e adolescentes começam a fumar nos EUA e 1.100 se tornam fumantes contínuos.

Um comentário:

  1. Rapaz, é uma questão para ser bem discutida e repensada. Sou adolescente e confesso que tinha o costume de fumar esses cigarros de vez em quando, pelo aroma doce. Sempre tive a noção dos males que esse tipo de cigarro faz a mais do que um cigarro comum, mas quanto a questão de probição eu sou contra.

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