Santo Daime não causa reações violentas, diz especialista em drogas

Do G1

O chá utilizado no ritual do Santo Daime não causa reações violentas em seus usuários. É o que afirma o professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Dartiu Xavier da Silveira.

Segundo o médico, a droga, no entanto, pode causar reações adversas em pessoas com distúrbios mentais, caso do estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, de 24 anos. Principal suspeito de assassinar Glauco Villas Boas, de 53 anos, e o filho dele, Raoni, de 25 anos, na sexta-feira (12), o rapaz sofre de esquizofrenia, segundo relatam parentes que não quiseram se identificar.

“O chá não cria violência. Em casos de psicose, pode potencializar o efeito. Por isso, não é aconselhado a quem sofre [de transtornos psiquiátricos]”, afirma Silveira. O chá de ayahuasca é ministrado em rituais de Santo Daime e causa alucinações em quem consome a bebida. O efeito dura de quatro a oito horas.

De acordo com familiares do estudante, o rapaz teve uma piora da saúde mental após frequentar a Igreja Céu de Maria, fundada pelo cartunista e que funcionava no mesmo terreno onde morava, em Osasco, na Grande São Paulo. Os advogados de Cadu deverão adotar na defesa do rapaz a versão de que ele teve seu quadro de esquizofrenia agravado após ter tido contato com a igreja e o Daime.

O surto de violência, porém, não condiz com o perfil de usuários do chá de Santo Daime. O especialista da Unifesp, considerado no meio acadêmico uma das maiores autoridades em drogas do Brasil, nunca ouviu falar de explosões de agressividade em usuários da droga. “E olha que sou pesquisador da área”, reforça.
Apesar de não viciar nem estimular violência, o uso do chá deve ser assistido. “Uma pessoa sob efeito pode achar que pode voar e cair”, exemplifica Silveira. Quem toma antidepressivo também pode sentir tontura e aumento da pressão, já que a droga potencializa o efeito do remédio.
Questionado a respeito das igrejas que praticam o uso ritual do Santo Daime, como a Céu de Maria, o especialista diz que nelas há um “controle muito rigoroso” na dosagem e distribuição do chá. “São pessoas muito sérias”, completa.