quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Usuários deveriam poder analisar o ecstasy que tomam

Fonte: Folha de São Paulo

DAVID NUTT
DO "GUARDIAN"

Os relatos da mídia sobre duas mortes no fim de semana no mesmo local de festas foram novamente acompanhados por sugestões da polícia de que a droga responsável possa ser ecstasy vindo de um lote "contaminado". Fazer especulações sobre a causa dessas mortes trágicas não ajuda, e a experiência recente com a mefedrona mostrou que os comentários preliminares muitas vezes são equivocados. A verdade só será sabida quando forem divulgados os resultados dos exames toxicológicos.

Os usuários de drogas recreativas são aconselhados a procurarem os setores de emergência dos hospitais se sofrerem mal-estar depois de consumir drogas, sejam elas legais ou controladas. Embora as mortes por ecstasy hoje sejam incomuns, após a exigência de medidas promotoras de saúde como o fornecimento de água gratuita e salas para recuperação em clubes de dança, elas ainda são extremamente lamentáveis e causam enorme sofrimento aos familiares e amigos. Existe algo que pudesse ser feito para reduzir os riscos para os usuários de ecstasy e outras drogas recreativas?

Esse é um tema que o Comitê Científico Independente sobre Drogas (ISCD) vem estudando detalhadamente há alguns anos, análise na qual levamos em conta evidências de práticas positivas adotadas em outros países. Precisamos abandonar a abordagem atual do governo, que se baseia no medo de efeitos nocivos, baseado no desconhecimento do que os usuários de drogas estão consumindo. Essa abordagem fracassou e vai continuar a fracassar, na medida em que os jovens se mostram relativamente pouco interessados em possíveis ameaças à sua saúde. Pode agravar as coisas, já que usuários jovens frequentemente temem procurar atendimento médico para eles mesmos ou seus amigos, em função do perigo real de virarem alvos de ação policial.

Devemos adotar ao invés disso uma abordagem baseada no conhecimento, visando manter os usuários em segurança. Essa nova abordagem deve ser baseada no Sistema Holandês de Informação e Monitoramento de Drogas (Dims), uma rede nacional de laboratórios hospitalares que analisam substâncias sem fazer perguntas sobre suas origens. Os usuários - ou potenciais usuários - podem mandar analisar a droga que compraram, sem qualquer risco de consequências policiais. As análises levam poucos dias para ficar prontas, e quando o usuário vai buscar as informações sobre o produto que comprou ele recebe informações sobre a natureza do produto e orientações sobre dosagens, efeitos adversos e segurança. Isso reduz o risco sofrido pelo usuário (desde que ele dê ouvidos aos conselhos) e, o que é vital, proporciona ao governo informações sobre as drogas que estão em uso. Desse modo as tendências de pureza podem ser determinadas rapidamente, e novos produtos que chegam ao mercado podem ser detectados de modo precoce.

No Reino Unido, lamentavelmente, não temos um sistema tão sofisticado e lógico. Ao invés disso, dependemos de algumas compras feitas para finalidade de exames e algumas pesquisas para coletar informações, e nenhuma orientação personalizada clara é dada aos usuários. O sistema de medicina legal do Reino Unido é lento; muitas vezes leva meses após a morte para ser concluída a análise das drogas presentes no corpo, e geralmente se passam meses até ser divulgado a avaliação final do médico legista sobre o papel dessas drogas no óbito. A situação deve se agravar ainda mais com a reorganização que está sendo proposta do sistema de médicos legistas e do Serviço de Ciência Forense, que fornecia muitos dos instrumentos analíticos para a detecção de drogas. Ainda não foi formulado o novo sistema de aviso precoce anunciado como parte da nova lei sobre drogas, e, sem investimentos em uma abordagem estruturada, é pouco provável que seja útil, exceto em retrospectiva.

Quando fui presidente do Conselho Assessor sobre o Abuso de Drogas, escrevi para a então ministra do Interior, Jacqui Smith, sugerindo que poderia ser benéfico para o Reino Unido iniciar um diálogo com os especialistas holandeses sobre o sistema deles e a base de evidências formada ao longo da década passada. Mas recebi uma mensagem muito clara de que o governo não tinha interesse nessa abordagem.

Quem sabe a coalizão queira repensar o assunto?

TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN

Um comentário:

  1. pra quem curte a balinha

    http://www.pillreports.com/

    analise de quase todas as baletas del mercado mundial

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