Fonte: Folha de São Paulo
JÚLIO DELMANTO, LEONARDO DIAS, MARCO MAGRI e PEDRO NOGUEIRA
Nós temos certeza de que a proibição à maconha cairá, do mesmo modo como caíram os argumentos que sustentavam a repressão à nossa marcha
Após quatro anos de proibição e obscurantismo, a liberdade de expressão prevaleceu. A decisão no STF impede que interpretações medievais por parte de tribunais inferiores possam restringir o direito constitucional de discutirmos as políticas de drogas onde devem ser discutidas: nas ruas.
A Marcha da Maconha propõe, por um debate amplo e democrático com a sociedade, a criação de regras e leis para controlar o plantio, o comércio e o uso de maconha. O cenário proibicionista é de falta de regulação do mercado da planta, deixando que o controle seja feito exclusivamente pelo crime e, consequentemente, pela violência.
A polícia nunca conseguirá deter o plantio ilegal, o transporte e o tráfico, tampouco o uso na sociedade.
O uso de drogas precisa ser encarado como uma questão cultural, em uma perspectiva histórica complexa, e seus aspectos positivos e negativos requerem política igualmente complexa e, principalmente, respeitosa dos direitos humanos.
Quem ganha com a Marcha nas ruas e sem mordaça são a sociedade e o debate franco de ideias. Como demonstrado em nossas inúmeras participações em seminários, programas de TV, rádio, internet etc., estamos abertos ao diálogo com todos os setores.
Mas não podemos nos furtar de apontar como a proibição das drogas é fonte da violência que atinge populações já fragilizadas socialmente, além de gerar falta de acesso à saúde pública para quem precisa, corrupção relacionada ao tráfico e ignorância sobre os efeitos e a história das drogas lícitas e ilícitas.
Ela é ainda responsável pelo sofrimento de doentes que dependem de substâncias hoje demonizadas.
Não fazemos apologia ao crime, uma vez que pretendemos exatamente transformar o status criminalizado de uma conduta, nem do uso indiscriminado de qualquer substância. E os proibicionistas, podem dizer que não fazem apologia à violência? Nossa defesa é da paz, de um Estado que tenha cada vez menos instrumentos de opressão e que trate seus cidadãos como capazes de tomar suas decisões.
De um lado, estão o fundamentalismo religioso, as indústrias armamentista e farmacêutica, policiais, juízes e políticos corruptos, donos de clínicas que enriquecem com a desinformação alheia e interesses geopolíticos externos. De outro, os que acreditam em uma sociedade que se paute pelo respeito aos direitos humanos e à diversidade.
Temos certeza de que a proibição cairá, assim como caíram os argumentos que sustentavam a violenta repressão à nossa marcha, realizada legalmente pela primeira vez no sábado passado.
O período proibicionista, com suas mortes e tabus, será lembrado no futuro com um democrático arrepio na espinha.
Encurralados, os agentes da proibição recorrem ao discurso do medo e à extorsão emocional.
Respondemos propositivamente, clamando por um debate sem preconceitos para uma nova lei de drogas, convocando a sociedade brasileira a escolher se está do lado dos que estão lucrando ou dos que querem mudanças.
JÚLIO DELMANTO, 25, LEONARDO DIAS, 24, MARCO MAGRI, 25, ePEDRO NOGUEIRA, 25, são membros do Coletivo Desentorpecendo a Razão e da Marcha da Maconha.
Site: coletivodar.org.
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