quarta-feira, 13 de julho de 2011

Dúvidas no fumacê

Fonte: Folha de São Paulo

RUY CASTRO

RIO DE JANEIRO - O tráfico não vai esperar pela descriminalização da maconha, e já está se organizando para, quando acontecer, não ser apanhado de bermuda, boné ao contrário e chinelo. O novo status da droga exigirá alto profissionalismo em termos de produção, transporte, distribuição e venda.


As empresas que se formarão para fabricar e vender maconha precisarão passar, por exemplo, da absoluta informalidade para certas obrigações junto aos ministérios do Trabalho e da Fazenda. Como reagirão ao descobrir que, por causa de carteira assinada, contribuição ao INSS, 13º salário, férias e demais encargos, seus funcionários lhes custarão o dobro do salário que elas lhes pagarão?


Como isto aqui é o Brasil, não a romântica Holanda, pode-se esperar uma feroz concorrência. Alguns fabricantes logo começarão a oferecer o produto já enrolado, em embalagens de 20, como os maços do cigarro careta. Outros competirão pelo teor light ou "normal" de THC, e os consumidores poderão escolher entre um largo espectro de fumos, desde o "da lata" até o mais vagabundo, de estrume. Dúvidas no fumacê: haverá baseados com filtro, para usuários com garganta mais sensível? E qual marca criará a maconha com mentol, para atrair o mercado feminino?


Mais dúvidas: os baseados, livremente vendidos, sofrerão as restrições que se aplicam aos cigarros comuns? Afinal, o produto migrará das atuais bocas e biroscas clandestinas para os balcões de áreas nobres, como shoppings, cafés e tabacarias. Poderão ser anunciados em displays? As embalagens serão obrigadas a imprimir aquelas imagens horríveis e advertências do Ministério da Saúde?

Será permitido dirigir doidão? Será proibido fumar em recinto fechado? E, mesmo na rua, os fumantes passivos fuzilarão os maconheiros com o olhar mortífero que disparam contra os adeptos do oliúde?

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