Fonte: Público.pt
O número de mortes por consumo excessivo de medicamentos já é superior, nalguns países, ao número de mortes por consumo de drogas ilegais, como a heroína ou a cocaína.
A conclusão é da Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes (JIFE), que, no seu relatório anual apresentado ontem em Viena, expressou a sua preocupação com o nível mundial cada vez mais elevado de consumo de analgésicos opiáceos.
De acordo com o relatório da ONU, o consumo global deste tipo de analgésicos cresceu significativamente nos últimos anos, tendo, por exemplo, o nível de consumo de morfina aumentado em cerca de sete vezes de 1989 para 2009.
É nos EUA e na Europa que os níveis de consumo destas substâncias são mais elevados e o Governo americano já fez saber que o abuso de medicamentos de venda com receita é o problema de droga que mais rapidamente cresce no país.
O número de mortes por abuso de drogas lícitas aumentou "bruscamente" e esta é a categoria de estupefacientes em que ocorre maior dependência e abuso, a seguir à cannabis.
A JIFE alerta também para o crescimento preocupante das chamadas "drogas sintéticas", substâncias que são especialmente desenvolvidas para contornar as medidas de controlo de estupefacientes existentes. Este tipo de substâncias são manufacturadas através da modificação da estrutura molecular de substâncias controladas e as instruções de produção são facilmente encontradas na Internet.
Uma das "drogas sintéticas" mais publicitada é a mefedrona, substância cujo consumo tem vindo a aumentar, apesar de ter sido recentemente proibida pela União Europeia. Provocando efeitos semelhantes à cocaína, às anfetaminas e ao ecstasy, a mefedrona está ligada à morte de mais de 35 pessoas no Reino Unido e na Irlanda.
Mas o mais alarmante neste relatório das Nações Unidas não é o abuso de drogas ilícitas, mas sim o alto consumo e dependência de medicamentos totalmente legais.
A Europa atinge o recorde mundial de utilização de benzodiazepinas, um grupo de fármacos utilizado como sedativos, hipnóticos ou relaxantes musculares e os EUA são o país onde o consumo de estimulantes para potenciar artificialmente o rendimento do corpo e da mente é mais elevado. O uso mundial de metilfenidato (conhecido também por ritalina), e que é usado para aumentar o défice de concentração e em situações de hiperactividade, subiu 30 por cento entre 2005 e 2009.
A JIFE alerta para o facto de circularem receitas de narcóticos e de substâncias psicotrópicas falsas; para o facto de as farmácias fornecerem medicamentos sem exigirem a requerida receita médica e ainda para o facto de os doentes detentores das receitas fornecerem os medicamentos a outros. O controlo destas situações seria uma forma de diminuir o consumo desnecessário de fármacos.
No pólo oposto estão a África, a Ásia e a América Latina, áreas onde o acesso a medicamentos é insuficiente ou até inexistente. Segundo o relatório, 90 por cento das drogas lícitas são consumidas por dez por cento da população mundial, enquanto 80 por cento da população tem pouco ou nenhum acesso a medicamentos que evitariam muito sofrimento.
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