Dez por cento das pessoas em tratamento são consumidores de cannabis

do Público 

Dez por cento das pessoas em tratamento de toxicodependência são consumidores de cannabis, um número que aumentou com o trabalho das comissões de dissuasão, revelou hoje o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT).

“É bastante [a percentagem]. E é um efeito da actividade das comissões de dissuasão de toxicodependência. Antes destas comissões era raríssimo aparecer um utilizador só de cannabis a pedir ajuda nos centros de tratamento”, afirmou João Goulão aos jornalistas no Parlamento, no final da apresentação do relatório anual do IDT sobre a situação das drogas no país.

Segundo João Goulão, antes a tendência dos utilizadores de cannabis era desvalorizarem completamente este consumo, considerando que não trazia problemas.

"No contacto com os técnicos das comissões de dissuasão acabam por tomar consciência de que podem beneficiar de um tratamento para se libertar de uma escravatura que se instalou de forma insidiosa”, comentou.

João Goulão estima que actualmente haja 60 mil portugueses considerados consumidores problemáticos de droga.

Entre estes, 50 mil serão utilizadores de heroína, quando há 20 anos eram estimados em 100 mil.

O relatório sobre a situação do país em matéria de droga em 2009 mostra, aliás, uma diminuição do consumo por via intravenosa, um dos pontos considerados positivos, a par com o decréscimo da incidência da VIH/sida na população toxicodependente.

Quanto ao número de mortes, o documento aponta para a necessidade de aprofundar a estatística das mortes associadas ao consumo de estupefacientes.
Isto porque, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), aumentou em 2009 o número de mortes em comparação com 2006.

Enquanto o INE avalia em 19 as mortes causadas por consumo de droga no ano passado, o Observatório Europeu aponta para 27.

Já o Instituto Nacional de Medicina Legal, em 2009 contabilizou 54 mortes por overdose, quando em 2008 tinha aferido 94.

“São critérios completamente diferentes. É preciso melhorar os indicadores. Caso se confirme esta tendência de aumento do número de mortes, desencadearemos intervenções”, reconheceu João Goulão.

O presidente do IDT refere que alguns países estão a usar medidas de combate à mortalidade associada à droga. Por exemplo, fazendo com que toxicodependentes treinados sejam portadores do “antídoto” usado em situações de overdose para ajudar a socorrer quem precise.

Sobre o panorama futuro em Portugal, o responsável alertou para a necessidade de “não desinvestir” na prevenção, “num momento em que os problemas sociais criam um terreno profícuo ao agravamento” de problemas como as dependências.
No próximo ano, além de pretender englobar o consumo de álcool no estudo das dependências em Portugal, o IDT pretende ainda gastar meio milhão de euros num inquérito que trace o consumo de estupefacientes por parte da população geral.