da Globo.com
O Ministério da Saúde estima que 600 mil jovens sejam dependentes de crack no Brasil. Mas alguns estudiosos calculam que este número seja o dobro. Estes são os impressionantes e preocupantes dados que constam de recente e providencial matéria da Revista Época, de 14 de junho . "Há uma epidemia de crack no Brasil, uma epidemia sem barreiras sócio-econômicas. Antes, prevalecia o consumo da maconha, de drogas sintéticas e de cocaína, mas o crack se infiltrou entre esses jovens", afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, especialista no estudo de dependência e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Estado de São Paulo.
A matéria revela que é falsa a impressão de que os usuários da chamada "droga da morte" sejam de origem social pobre. "O crack é que empobrece os usuários", diz Solange Nappo, pesquisadora que há 20 anos estuda como o crack se espalhou entre a população e afirma que os usuários de classe média evitam comprar a droga diretamente do traficante, usando o serviço de "mulas" ou "aviõezinhos" - garotos pobres que compram as pedras em troca de dinheiro para financiar o próprio vício.
Nos últimos cinco anos no Brasil, o número de dependentes de crack com renda acima de 20 salários mínimos cresceu 155%. No Rio de Janeiro, estima-se que quase 40% dos usuários sejam de classe média. "O aumento do uso de crack reflete o sucesso de uma política mundial de repressão ao tráfico de cocaína", diz o diretor-geral da Polícia Federal. Luiz Fernando Corrêa. Esse sucesso tem um preço: "Surgiu um subproduto tão maléfico, tão doloroso, e as quadrilhas se adequaram a esse mercado", comentou.
A rapidez com que os usuários adotaram a droga ganhou impulso com a estratégia tomada pelos traficantes a partir do fim dos anos 90: a venda casada, ressalta a matéria. Muitos só vendiam maconha se o usuário comprasse junto pedras da nova droga. Essa fórmula conquistou o jovem acostumado apenas à maconha. Por causa da combinação de efeitos nocivos, a expectativa de vida de um usuário de crack não ultrapassa um ano. O caminho da droga até o cérebro, após fumada, produz ação devastadora no organismo, atingindo diretamente os pulmões e, através dos alvéolos pulmonares, a fumaça cai na circulação sanguínea e chega ao cérebro. Com a concentração anormal de dopamina estimulando os receptores do cérebro, as primeiras sensações são descritas como um relâmpago, o "tuim", na linguagem dos usuários, seguida de taquicardia, euforia, desinibição, agitação e bem-estar.
Em dez a quinze segundos o cérebro "percebe" o excesso de receptores e reduz sua quantidade. As sinapses tornam-se lentas: é a fase da depressão e vontade incontrolável de sentir de novo os efeitos do "falso barato". O certo é que o uso constante do crack danifica a área frontal do cérebro, responsável pelo planejamento, pensamento, controle dos impulsos. Por isso o usuário do crack tende a ser violento, desorganizado e, em um estágio mais avançado do consumo, relapso com sua higiene pessoal. Começam a virar trapos humanos.
A realidade é que o crack hoje é uma seríssima ameaça à juventude ainda sadia, o que levou o governo federal a anunciar recentemente o "Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack". A idéia é dobrar o número de leitos para dependentes químicos em hospitais do SUS. Estão previstos também a criação de novos Centros de Atenção Psicossocial e a transformação dos 110 Centros atuais em unidades abertas 24 horas por dia.
É necessário, no entanto, investir na prevenção para conter a epidemia do crack que se alastra progressivamente. A família é o primeiro e principal agente social de prevenção. Não há, porém, fórmulas mágicas que nos livrem desse mal. O diálogo com os filhos e o monitoramento permanente da porta pra fora são fundamentais na prevenção ao uso de drogas. Se o problema ocorrer, explica a matéria, a abordagem há que ser múltipla. Primeiro, a intervenção da família, que não pode se acanhar ante o problema. Em seguida, vem o tratamento contra a dependência química, a busca de alternativas à droga - que pode ser pela fé ou por um novo propósito de vida - e o apoio comunitário, ou seja, da igreja, dos amigos, dos grupos especializados como o Narcóticos Anônimos e o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Uerj (Nepad), entre outros, para manter a pessoa longe do perigoso e destruidor mundo das drogas.
Aqui vale lembrar o impressionante depoimento de Maria Eugênia à Época. Ela é mãe de três filhos, ex-dependente da "droga da morte", que a consumiu durante 12 anos, inclusive dentro de casa, fato que demonstra inequivocamente o poder envolvente do crack que ameaça perigosamente os jovens. "Eu estou de luto porque não posso fumar. Adoro fumar pedra. Mas adoro mais a minha vida". Registre-se que a idade média para início do uso da droga é de 13 anos.
Drogas não agregam valores sociais positivos. Tudo deve ser feito, portanto, pela sociedade organizada, em todas as sua frentes, para conter o avanço ameaçador do crack e proteger as futuras gerações. Por enquanto, o crack é uma ameaça real de uma possível e futura criação de uma legião de drogados sem rumo. Isso tem que ser evitado a todo custo.
Artigo do leitor Milton Correa da Costa. Quer participar também e enviar o seu? Clique aqui
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