sexta-feira, 12 de março de 2010

Glauco fundou comunidade Céu de Maria há 17 anos, diz frequentadora

Da Globo.com

SÃO PAULO - A comunidade Céu de Maria, onde o cartunista Glauco Vila-Boas, de 53 anos, foi assassinado na noite desta sexta-feira em São Paulo, foi fundada por ele há cerca de 17 anos. O conjunto de aproximadamente 10 casas fica numa área de mata na Estrada Alpina, perto do Pico do Jaraguá, na altura do km 18 da Via Anhanguera. Para chegar até o local, é preciso percorrer cerca de 2 km de estrada de terra, em desnível. A comunidade fica no meio de uma mata e a ideia é propiciar um ambiente tranquilo para os mais de 400 participantes do Santo Daime que todos os fins de semana passam pela comunidade. Todos os moradores são adeptos do ritual.

Glauco é o que os 'irmãos do Daime' chamam de padrinho. Ele e a mulher Beatriz Galvão, a Bia, de 48 anos, a madrinha da comunidade, eram os responsáveis por conduzir os rituais, que aconteciam várias vezes por mês. Segundo a fotógrafa Juliana Maria Cerquiaro, de 34 anos, que frequentava a Céu de Maria há dois anos, Glauco teve o primeiro contato com o Daime há 20 anos e recebeu a missão de fundar uma comunidade com o objetivo de curar as pessoas.

- Há 20 anos, Glauco reunia algumas pessoas perto da Universidade de São Paulo (USP) para consagrar (beber) o Santo Daime. Foi numa dessas consagrações que ele recebeu orientação do plano espiritual para fundar uma igreja. A Céu de Maria foi fundada há 17 anos - explicou Juliana, que é uma das 'fardadas', como são chamados os adeptos do Daime.

Segundo Juliana, Glauco chegou a tomar o Daime na Vila Céu do Mapiá, sede da igreja localizada em Belém, no Pará. O cartunista teria frequentado vários rituais no Mapiá antes de fundar sua própria igreja em São Paulo. No Mapiá, conheceu o 'padrinho Sebastião' que herdou de 'mestre Irineu', o fundador da igreja no Brasil, a missão de difundir o Daime pelo país.

Atualmente a Céu de Maria é uma das maiores igrejas do Daime em São Paulo. Segundo os irmãos, é uma das que mais servem o chá em São Paulo e possivelmente em todo o Brasil. Todos os dias 15 e 30 de cada mês, a Céu de Maria recebe os novatos, gente interessada em tomar pela primeira vez o chá que, segundo os adeptos, é uma ferramenta para o conhecimento espiritual e a aproximação com Jesus, Deus e a Virgem Maria. A maioria dos novatos chegava ao Céu de Maria depois de acessar o site da igreja na internet, conta a irmã Juliana. Nessas sessões, a Céu de Maria recebia cerca de 30 novatos em cada uma. A comunidade cresce tanto que já há planos de construir uma igreja ainda maior no mesmo local.

Durante os rituais na Céu de Maria, Glauco costumava tocar acordeão. O cartunista também conduzia os trabalhos, durante os quais são cantados hinos preparatórios para a consagração do Daime. Assim como em todas as igrejas do Daime, os rituais na comunidade de Glauco começavam por volta de 21h e duravam toda a noite. Além de entoar os hinos, os adeptos rezam o terço, com aves-marias e pai-nossos. Em seguida, cantam o inário de preparação para tomar o chá. Nesse momento, segundo Juliana Cerquiaro, eles recebem as instruções do plano espiritual. Em alguns rituais, eles bailam durante toda noite, depois de ingerir o chá. Na igreja Céu de Maria, há uma estrela feita de madeira, onde os membros mais graduados ficam. No centro da estrela, há uma imagem de Nossa Senhora.

- Às vezes, era o próprio Glauco quem servia o chá - disse Juliana.

Ela contou que as plantas usadas para preparar o Daime - o cipó e a chacrona - na comunidade Céu de Maria, são plantadas num sítio entre os estados de São Paulo e Paraná. Glauco havia completado 53 anos na última quarta-feira e a festa de aniversário dele foi incluída na programação oficial da Céu de Maria.

- Mas infelizmente ele foi levado por uma fatalidade. Foi a vontade de Deus - disse a irmã Juliana.

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