Fonte: RTP
O representante das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, disse hoje que os países africanos são vítimas dos países produtores e consumidores de droga e que estes têm que fazer mais para combater o narcotráfico.
"Os africanos, sobretudo os da África Ocidental, aparecem sempre como os maus da fita, mas na realidade nenhum país africano produz droga - é produzida na América Latina - e em nenhum país africano há grande consumo de droga - consumidores há na América do Norte e na Europa", disse José Ramos-Horta.
O representante das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, que falava aos jornalistas em Lisboa, após uma reunião com o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Isaac Murade Murargy, adiantou que a questão do narcotráfico na Guiné-Bissau foi abordada no encontro e afirmou-se "incomodado" por os países africanos, nomeadamente a Guiné-Bissau, surgirem sempre associados ao tráfico de droga.
"Resolver-se-ia o problema da droga na Guiné-Bissau se a América Latina fizessem maiores esforços para controlar a produção de droga e os europeus fossem mais eficazes a controlar a suas fronteiras", acrescentou.
José Ramos-Horta, que se instalará em Bissau em meados de fevereiro, disse que o problema do narcotráfico na Guiné-Bissau "esteve muito presente" nas reuniões que manteve nas Nações Unidas, previas à sua partida para o terreno.
"Há uma grande luta contra a droga na América Latina - e em alguns países como a Colômbia com um sucesso enorme - mas é preciso muito mais. A Europa não pode distrair-se", disse.
"Brasileiros, colombianos e venezuelanos façam mais para evitar a saída da droga [...]. Portugal, Espanha, França e Inglaterra façam mais para interditar no mar, no ar ou por terra a passagem de droga pela África Ocidental", apelou.
"A África Ocidental acaba por ser vítima dos dois polos: a produção e o consumidor. No entanto, são os africanos que aparecem sempre nos media ligados ao narcotráfico", reforçou.
As Nações Unidas alertaram em julho para o aumento do tráfico de droga na Guiné-Bissau após o golpe militar de abril de 2012.
"Há registo de aumento das atividades de tráfico de droga" no país, alertou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no mais recente relatório sobre as atividades da ONU na Guiné-Bissau.
Alerta semelhante tinha já sido feito pelo representante do secretário-geral da ONU para a África Ocidental, Said Djinnit, que disse que as redes de narcotráfico estavam mais ativas e influentes.
O relatório adiantava que a situação de fragilidade política na Guiné-Bissau reduziu "significativamente" a capacidade de policiamento, criando "uma oportunidade de intensificar o crime internacional organizado e o tráfico de droga".
Apelava à comunidade internacional para se envolver mais no combate ao fenómeno "através de apoio financeiro, infraestrutural, logístico e operacional", mantendo-se "empenhada em lidar com esta ameaça não só na Guiné-Bissau, mas também nos países de origem, trânsito e destino de drogas".
Nenhum comentário:
Postar um comentário