sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Na Suazilândia, avós plantam maconha para sobreviver

Fonte: IG

Venda de tipo de droga potente e valiosa é meio de sobrevivência em país africano dono da mais alta taxa de infecção pelo vírus HIV do mundo

Depois que suas filhas morreram, Khathazile assumiu a responsabilidade por seus 11 netos órfãos sem pensar duas vezes. É o que uma “gogo”, ou avó, faz em um país onde a taxa mais alta de infecção pelo HIV do mundo deixou um mar de crianças sem mãe.

"Deus vai nos ajudar", disse.

Talvez. Mas Khathazile tem um segundo plano caso a intervenção divina não dê certo: Swazi Gold ou “Ouro da Suazilâdia”, uma variedade altamente potente e valiosa da maconha que é muito procurada no crescente mercado da droga no país localizado perto da África do Sul. Em uma plantação no meio da floresta, no topo de uma colina distante na região de Piggs Peak, Khathazile planta maconha para manter seus netos alimentados, vestidos e na escola.

"Sem a maconha, nós estaríamos morrendo de fome", explicou Khathazile, que pediu que apenas seu nome do meio fosse divulgado.

Khathazile faz parte dos milhares de camponeses que conseguem sobreviver nas áreas rurais do país do cultivo da maconha, de acordo com trabalhadores humanitários, abraçando a atividade como uma ajuda de renda tão necessária e relativamente fácil de se cultivar.

A Suazilândia, última monarquia absolutista da África, é oficialmente um país de renda média. Mas a pobreza prevalece nas áreas rurais do interior perto de Piggs Peak, uma cidade em uma região montanhosa no noroeste do país. Seu solo rochoso não facilita na plantação de alimentos e empregos são difíceis de encontrar. Muitos jovens vão para duas das grandes cidades de Suazilândia, Mbabane e Manzini, ou para a África do Sul à procura de trabalho.

Isso deixa para trás muitas mulheres idosas e crianças. O forte crescimento da terapia antiretroviral tem ajudado a reduzir a taxa de mortalidade por AIDS no país, mas a doença tem atingido praticamente todas as famílias de uma forma ou de outra, fazendo com que irmãos mais velhos cuidem dos mais jovens e avós criem seus netos.

Essas famílias fazem qualquer coisa para sobreviver.

"A maioria das pessoas vive de uma agronomia que depende da chuva", disse Tshepiso Mthimkhulu, funcionário da Cruz Vermelha da Suazilândia, com sede em Piggs Peak. "Há muitos órfãos e viúvas que têm dificuldades em sobreviver."

Rendimento

Uma boa colheita pode render cerca de 11 quilos de maconha. Mas eles vendem para intermediários que passam nas aldeias na época da colheita, e têm pouco poder de negociação. A maioria ganha menos de US$ 400 por safra.

Sibongile Nkosi, 70 anos, uma outra moradora da região, disse que começou a plantar maconha antes mesmo de sua filha morrer e a deixar com dois órfãos para alimentar.

Nkosi disse que nunca teve vontade de experimentar seu cultivo."Faz você ficar bêbado", disse ela quando questionada se já havia fumado maconha. "Se eu fumar vou cair no chão!"

A maconha fornece para ela e sua família o suficiente para sobreviver, mas ela se pergunta se realmente vale a pena. "Eu não quero cultivar mais maconha", disse Nkosi. "O dinheiro não é tão bom assim."

Mas, à medida que a temporada de plantio deste ano começou, ela estava se preparando para outra cultura. As anuidades escolares de seus dois netos chegarão a quase US$ 400 no próximo ano letivo, de acordo com ela, e não haveria outra opção para conseguir arrecadar essa quantia.

"Quando você está em uma situação de pobreza tem de fazer qualquer coisa para sobreviver", disse ela. "Se eu ganhar um pouquinho de dinheiro já será o suficiente para eu poder ficar tranquila."

*Por Lydia Polgreen

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