segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Marcelo D2 fala sobre o retorno do Planet Hemp, que não faz shows há quase 10 anos

Fonte: O Globo

Com ingressos esgotados no Rio, apresentação no Circo Voador terá a formação clássica da banda, que sairá em turnê nacional

RIO - “Um show e só”, publicou Marcelo D2 no Instagram ao anunciar, há cerca de um mês, a reunião do Planet Hemp, no dia 28 de setembro, para celebrar os 30 anos do Circo Voador. Os ingressos começaram a ser vendidos a R$ 60, na última terça-feira. Os fãs se amontoaram em volta da lona da Lapa; na internet, os acessos foram tantos que derrubaram o sistema de vendas; 2.200 entradas se esgotaram em uma hora; e espertinhos começaram a leiloar os bilhetes por valores até 300% acima do preço. Conforme o assunto dominava as redes sociais, a banda ia criando uma turnê. Depois do Circo, haverá um show em Porto Alegre (29 de setembro), mas D2 já pensa em São Paulo, planeja duas apresentações no Nordeste (ele anunciou no Facebook que serão em Fortaleza e Recife) e quer voltar ao Rio. As datas devem ser confirmadas nos próximos dias.

— Não esperávamos por esse barulho. Tudo começou com uma ideia do Circo, e eu topei na hora, até antes de falar com os caras da banda. O Planet teve 18 formações , alguma eu ia conseguir montar — diz Marcelo D2, fundador da banda. — Acho que vai ser um showzaço. A repercussão deixou todos eufóricos. O mais legal é acender aquela chama da inocência da juventude.

Três discos em quase 10 anos

Nascido em 1993, sob a influência do DeFalla e fruto da amizade entre D2 e Luís Antônio, o Skunk — morto em 1994, vítima da Aids —, o Planet Hemp conquistou uma legião de fãs ao falar, basicamente, sobre maconha, em ritmo de rap. “Legalize já/ Uma erva natural não pode te prejudicar” foi uma das frases mais repetidas durante os quase dez anos de existência da banda, que lançou três discos de estúdio: “Usuário” (1995), “Os cães ladram mas a caravana não para” (1997) e “A invasão do sagaz homem fumaça” (2000).

— Não me arrependo das letras que escrevi, pelo contrário. Meu discurso é o mesmo de 16 anos atrás, os meus joelhos é que não são — brinca D2, aos 44 anos, aproveitando para fazer um balanço. — O fim do Planet aconteceu como tinha que ser. Eu não queria me tornar um velho pulando no palco e gritando ideias tão juvenis. A porradaria e a força da banda eram demais, mas só funcionavam quando tínhamos vinte e poucos anos. Os fãs eram apaixonados mesmo. Não foi uma moda de verão.

D2 anuncia que BNegão (vocal), Black Alien (vocal), Rafael Crespo (guitarra), Formigão (baixo) e Pedrinho (bateria) estão confirmados para as apresentações. Mas não foi uma missão fácil. Com histórico de brigas, que resultaram no fim da banda após a turnê de lançamento do “MTV ao vivo: Planet Hemp” (2001), as negociações foram delicadas. BNegão está lançando “Sintoniza lá”, seu segundo disco com a banda Seletores de Frequência; Pedrinho e Rafael têm estúdios; Black Alien anda afastado do showbizz; e Formigão tem tocado com outras bandas.

— Estou muito feliz por todo mundo estar animado. Não foi fácil ser do Planet Hemp. Sofremos perseguição da polícia, tenho 18 processos na Justiça, os pais culpavam a gente porque os filhos fumavam maconha. Não podíamos tocar na televisão. Isso minou nossa amizade — diz D2.

Segundo ele, a relação dos músicos pós-Planet Hemp se resume a uns chopes de vez em quando:

— Eu tinha meu lado brigão, de não deixar ninguém falar, e não dava muito espaço para os caras dentro da banda. A gente nunca brigou a ponto de falar “tô fora”. Discussões eram normais. Claro que já tomei decisões que não agradaram muito a todo mundo. Prefiro que tenha gente me xingando porque acabou do que ter vergonha de ter estragado o projeto que idealizei com o Skunk. Mas não sabemos o dia de amanhã. Por isso, não afirmo que nunca mais vou fazer um disco novo com o Planet. Pode ser que daqui a três anos eu esteja em estúdio com eles, planejando uma turnê.

Sem contar um show em 2010 no aniversário de 20 anos da MTV, o Planet está há quase dez anos longe dos palcos. O repertório para a turnê já foi escolhido: “Usuário” será tocado na íntegra. Pelo menos, essa era a proposta inicial do Circo Voador para a banda que “jamais gostou de seguir roteiro, nem vai seguir agora”, segundo D2:

— Eu queria tocar tudo do Planet, afinal são dez anos afastados. Gosto muito do disco, porque foi o meu primeiro, e escrevi com meu amigo que morreu (Skunk), mas os outros têm músicas tão boas... Queria tocar coisas do “Cães ladram”, que considero nossa melhor fase, apesar de ter sido a época em que fomos parar na cadeia. Os ensaios começam em setembro, só para lembrar as músicas e decidir o repertório. Sempre fomos assim, nunca ensaiávamos. Ser espontâneo fazia parte da banda.

A prisão a que D2 se refere aconteceu em 1997, após um show em Brasília. A banda foi acusada de apologia ao uso de entorpecentes e passou quatro dias na cadeia, dividindo cela com criminosos que respondiam por crimes como estupro, assalto e assassinato.

— Quando saímos da cadeia, a gravadora sugeriu um disco para “responder ao sistema”. Entramos no estúdio, passamos dias fazendo uns barulhos e não saiu nada — conta o cantor, que acredita que o cenário melhorou dos anos 1990 até hoje. — Acho que mudou um pouco a maneira como as pessoas veem quem fuma maconha. Ainda tem preconceito, mas não como era antes.

No “fim de setembro, início de outubro” D2 lança seu quinto álbum solo, “Nada pode me parar”, que terá clipes para as 14 músicas. “Eu já sabia” já está na internet.

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