sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Cineasta aponta complô histórico por criminalização da maconha

Fonte: Vermelho.org

A maconha só passou a ser criminalizada após uma campanha difamatória arquitetada por empresários americanos das indústrias petroquímica, farmacêutica e celulose na década de 1930, com a conivência de banqueiros e do governo dos Estados Unidos. Essa é a tese mais polêmica do documentário “A Verdadeira História da Marijuana”, em cartaz na 35ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo a partir desta sexta (28).

Em seu filme, o diretor e roteirista Massimo Mazzucco tenta provar ao espectador que o cânhamo é a matéria-prima com a maior possibilidade de usos industriais e medicinais e, por isso, teria sido boicotada no início do século passado.

Liderada pelo empresário americano William Randolph Hearst, figura que inspirou Orson Welles no filme “Cidadão Kane”, a ofensiva teria evitado que o vegetal substituísse a madeira, o algodão e o petróleo no mercado.

O documentário ainda acusa o banqueiro Andrew William Mellon, financiador de Hearst, a escolher, com interesses econômicos, a Harry J. Anslinger para chefiar a então recém-criada Agência Federal de Narcóticos (FBN). Será ele o maior algoz da maconha, amparado pelos mais de 30 jornais e revistas que Hearst colocou à disposição para a batalha.

Será nessa época cunhado o termo “marijuana”. Segundo o filme, o cânhamo já era conhecido por suas qualidades terapêuticas e propriedades têxteis. Sustenta-se, até, que a própria Constituição americana foi escrita em papel dessa origem. Aslinger, portanto, usou o nome em espanhol por dois motivos: para desassociar a droga da matéria-prima e aproximar a primeira dos imigrantes mexicanos.

Não por acaso, quando finalmente conseguiu enquadrar legalmente a marijuana como droga, em 1937, e eliminar seu cultivo para demais finalidades, Anslinger foi acusado de um elevado grau de preconceito. O oficial dizia que a maioria dos fumantes de maconha era formada de “negros, hispânicos, filipinos e artistas” e que seu uso “faria moças brancas ter relações sexuais com eles”.

Massimo Mazzucco, no entanto, não traz às telas apenas os bastidores do complô, que conseguiu um evidente sucesso. O diretor também compila uma série de entrevistas, algumas de noticiários, outras realizadas por ele mesmo, para mostrar os supostos benefícios da maconha nos seus mais diferentes usos.

Na questão medicinal, dá voz a pacientes com câncer que tiveram remissão da doença alegadamente graças ao uso de remédios à base do cânhamo. Ao mesmo tempo, recorre a pesquisas para mostrar como o espectro de componentes existentes na planta atuam no organismo, agindo no combate a diabetes, esclerose, psicose, inflamações, entre outras doenças.

Embora seja didático, o diretor peca em não colocar informações imprescindíveis para o acompanhamento claro de seu projeto. Parte das entrevistas não é datada – fica a cargo do espectador determinar sua época pelo figurino - e torna-se difícil relacionar a qual estudo ou depoimento determinados gráficos e conclusões se referem, em meio ao mosaico montado.

O documentário alerta, no entanto, que não se pode simplesmente sair por aí fumando um baseado. A produção e administração são distintas para cada uso e o potencial de efeito depende de variáveis, muitas ainda em pesquisa. Mazzucco busca, aqui, não apenas apoio à descriminilização, mas uma retratação histórica à maconha.

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