domingo, 11 de setembro de 2011

No México, 11 de Setembro abriu caminho para aumento da violência interna

Fonte: Opera Mundi

O 11 de Setembro de 2001 é um divisor de águas na história mundial moderna e as políticas dos Estados Unidos tiveram tamanho impacto nas relações de poder e de exploração dos recursos naturais em outros países que, dez anos depois, ainda é complexo elaborar um balanço completo. No México, a data representou uma reviravolta, que começou ainda antes dos atentados, em 19 de janeiro de 2001. Naquele dia, Joaquín Archivaldo Guzmán Loera, mais conhecido pelo apelido de "Chapo" Guzmán, chefe do cartel de Sinaloa, conseguiu fugir da prisão de segurança máxima de Puente Grande, em Tonalá, Jalisco, com a ajuda de quase 80 oficiais e agentes.

Os dois eventos – nos EUA e no México – vinculam-se ao aumento da violência na última década, particularmente de 2006 até hoje, e à atual política de luta contra o narcotráfico, com um plano mais amplo de intervenção, controle e ocupação norte-americano no país vizinho. Atualmente, o México vive uma grave crise econômica, aliada a um saldo de mais de 45 mil mortos na "guerra ao narcotráfico" declarada pelo presidente Felipe Calderón. O país está militarizado, com o exército utilizado de fato e em grande escala em todo o território nacional para combater a violência e o crime organizado, com funções de polícia.

Segundo John Saxe-Fernandez, professor de estudos latino-americanos na UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México), o 11 de Setembro e suas consequências tiveram enorme importância para as políticas implementadas no México. "O 11/09 afetou o México de forma muito direta porque, como consequência, temos hoje um virtual estado de exceção no país. Por causa do 11/9, os EUA vivem em estado bélico e isto leva a um estado de exceção mundial. Ao longo dos oito anos do governo Bush, houve um ataque sistemático à Constituição e a princípios fundamentais do direito internacional", afirmou ao Opera Mundi.  

Recentemente, tiroteios perto de estádios de futebol, ataques a centros comerciais e chacinas aterrorizaram a população, como a do incêndio do Cassino Royale de Monterrey em 25 de agosto, onde morreram 53 pessoas. Já não se trata apenas de acertos de contas entre cartéis de droga, mas ações que envolvem civis. "No México, há operações com buscas e apreensões sem ordem judicial", explicou Saxe-Fernández. "A opinião pública recebe a mensagem de que isso é um direito. Os EUA, com o assassinato de [Osama] Bin Laden, ao mesmo tempo, mostraram que já não há processo devido, como no caso dos criminosos nazistas julgados no processo de Nuremberg”.  

Para o estudioso, o governo mexicano quer legalizar também o estado de guerra, por meio de mudanças na Lei de Segurança Nacional. “O estado de guerra já existe, mas é preciso lhe dar permanência e legalidade. Para os mexicanos, o futebol é algo muito importante, e o tiroteio que levou pânico ao estádio ou os ataques a centros comerciais nos dizem: ir ao futebol, ir ao centro comercial, ir ao cassino é um risco, porque você pode ser morto. Não se sabe quem mata, não se sabe porque, não há informação, mas não se pode atribuir tudo ao crime organizado. O estado de exceção dos EUA, logo, transbordou para o México."

A notícia publicada pelo New York Times em uma reportagem de Ginger Thompson em 6 de agosto de 2011 afirmou que é desejo do governo de Barack Obama utilizar "um grupo de contratados dos EUA dentro de algumas unidades especiais antidrogas mexicanas". A contratação de agentes privados da CIA, da DEA (Agência Antidrogas Americana, na sigla em inglês) e do FBI, que operam em conjunto nas atividades contra o tráfico em território mexicano, parece coerente com o perfil e a política do novo embaixador dos EUA no México, Earl Wayne, ex-embaixador-adjunto no Afeganistão, onde desempenhou desde 2009 o papel de Diretor de Coordenação para o Desenvolvimento e Assuntos Econômicos. 

Nos últimos anos foi possível observar como a reconstrução de países em guerra oferece uma gama extraordinária de oportunidades de ganhos para as grandes empresas e os empreiteiros. Os países são destruídos e logo se tem a desculpa para as enormes liberações orçamentárias para contratos marcados pelo superfaturamento e pela corrupção.

"É importante ver com cautela os programas antidrogas dos EUA, como é o caso da Iniciativa Mérida", continua Saxe-Fernández. "Pode-se ver o que aconteceu com o Plano Colômbia, que foi desenvolvido como um experimento brutal, atroz, com dezenas de milhares de mortos, sem que tenha havido nenhum resultado real. A partir dos anos 1990, os EUA decidiram que, ante a ausência do comunismo como desculpa para a intervenção dos aparatos de segurança na América Latina, era possível privilegiar o narcotráfico, e foi quando isso deixou de ser manejado por organismos civis e passou a ser tratado diretamente pelo Pentágono."  

Objetivo real


Como recordou o coronel da FAB (Força Aérea Brasileira) Sued Castro Lima ao Opera Mundi, "a guerra ao narcotráfico é o que, em contrainteligência, se chama de história de cobertura. Mas o objetivo é outro, o objetivo é intervenção e ocupação". Isso não quer dizer que o narcotráfico não exista, mas simplesmente que as drogas não são o problema, e sim a desculpa para infiltrar o pessoal na jurisdição de outro Estado, como no caso do México.

O que mudou é a noção de inimigo, derivada diretamente das consequências do 11 de Setembro. Na guerra ao terrorismo, assim como na "guerra ao narcotráfico", que nas palavras da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, já se transformou em "narcoterrorismo" e "narcoinsurgência", já não há cidadãos, e sim "inimigos internos". E, como resultado, há uma mudança na estratégia militar mexicana: antes se concentrava em uma hipotética invasão interna, mas agora não há um inimigo externo, e sim um inimigo interno que está entre os civis. Daí o massacre: mexicanos exterminando mexicanos.

Segundo o intelectual da UNAM, não há redução do consumo de drogas, porque o objetivo não é acabar com este negócio. “Não há diminuição da enxurrada de armas quando os EUA declaram um embargo de armas contra a Líbia”, continuou.  

Como lembrou Saxe-Fernández, a lei marcial de 2007, o John Warner Act, informa que Bush “conseguiu” neutralizar a lei Posse Comitatus de 1878, que proíbe o uso das Forças Armadas em território norte-americano e nas possessões dos EUA, e também conseguiu, com a lei marcial de 2002, estabelecer o uso das forças militares para segurança pública. “Essa é a essência do que está acontecendo no México: o transbordamento destas leis. Estão usando o país como plataforma para a América Latina. Assim, o 11/9 é um evento central, um projeto de intervenção e ocupação. E o que mais chama a atenção é a estrita continuidade de Barack Obama com o esquema."

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