sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"Combate à droga mata mais que o seu consumo"

Fonte: RTP(Portugal)

Mudar de paradigma no combate ao flagelo da droga como estratégia que deve nortear o conjunto das nações por soluções, que podem passar pela legalização e imposição de taxas, é a proposta de João Castel-Branco o presidente do conselho de administração do Observatório Europeu das Drogas e das Toxicodependências

João Castel-Branco considera ter chegado o momento de discutir de uma forma profunda e séria as várias soluções possíveis para erradicar o flagelo da droga e do seu consumo. Os intervenientes nesse combate terão obrigatoriamente de equacionar os prós e os contras das alternativas em cima da mesa.

O homem forte do Observatório Europeu tem como forte convicção, a de que “a guerra das drogas mata mais que as próprias drogas”. Castel-Branco recorre ao exemplo do Brasil para justificar a sua convicção. “No Brasil mataram 40 polícias no ano corrente. Por cada polícia morto morrem 10 ou 15 do outro lado”, constata citando as estatísticas oficiais do estado brasileiro.

Estes números levam-no a considerar essencial mudar de paradigma no combate que os Estados têm de conduzir contra o tráfico de droga e o seu consumo.

Discussão que anima o tema na atualidade é o da legalização das drogas. Castel-Branco não tem a certeza absoluta que o novo paradigma que defende como necessário passe obrigatoriamente por essa solução.

“Há fortes movimentos nesse sentido, para que o estatuto aplicável a essas substâncias seja comparável ao do álcool e do tabaco e que os Estados cobrem taxas pelo seu uso”, afirma concedendo que pode efetivamente vir a ser uma opção em cima da mesa. Chama no entanto, a atenção para que se for esse o caminho escolhido, a solução deverá ser abordada e adotada por toas as Nações e não apenas por um Estado isolado.

Uma certeza tem Castel-Branco. A de que a família é o instrumento mais eficaz de prevenção contra o consumo de droga. “Não há que alimentar mitos nem posições moralistas. Há que apresentar com seriedade todos os males que o consumo acarreta sem mentir nunca”, alerta o especialista em vésperas de participar na conferência inaugural do congresso “Famílias, adolescentes e drogas”.

As drogas, fenómeno que, lembra, não é exclusivo dos jovens estiveram nos dois países da Península Ibérica nas últimas três décadas ligados a fenómenos de marginalidade e de exclusão afetando todos os extratos sociais e todas as famílias. A meio da década de 90, a essa realidade juntou-se uma outra, a dos fins recreativos embora cumulativamente se tenha registado um substancial aumento da maior parte dos consumidores dos efeitos e risco do consumo.

Nos tempos que correm existe um uso mais utilitário. Os consumidores usam as substâncias para obter um efeito muito concreto: potenciar a diversão.

Castel-Branco regista que na Europa o fenómeno da toxicodependência está a diminuir o que não quer dizer, recorda, que o consumo das drogas esteja a diminuir.

O combate legal é muito compexa e difícil. A todos os momentos aparecem novas substâncias e a criatividade nesse campo parece ser quase infinita. Cambiantes de drogas conhecidas aparecem com a introdução de ligeiras cambiantes moleculares afastando-as das classificações oficiais. Castel-Branco lembra que é como o "jogo do gato e do rato". Não se pode proibir uma substância antes de existir. Esta questão torna a proibição ineficaz e obriga a novas formas de o fazer.

No entretanto, um novo instrumento surgiu com grande força e que veio complicar a já difícil combate ao consumo das drogas. A Internet facilitou a sua comercialização. Se alguém vê á sua inteira disposição, como se fosse numa loja de porta aberta, uma droga disponível conclui que é por não haver qualquer mal no seu uso. Em muitos casos a linha que separa a droga de um medicamento é muito ténue.

Outro fator veio complicar ainda mais etsa problemática. A crise económica e financeira que se instalou no mundo nos últimos anos. O uso das drogas serve para aliviar o sofrimento das pessoas. Mas, à semelhança de alguns países sul-americanos, também o pequeno tráfico serve para arranjar formas de subsistência num mundo em que o trabalho está em crise e em que aumenta exponencialmente o número de desempregados. A crise impôs também, cortes entre outros nos serviços que se dedicam a acompanhar este problema.

Estes são os três fatores de preocupação que podem conduzir a um recrudescimento do fenómeno nos países mais afetados pela crise, alerta o presidente do Observatório Europeu das Drogas e das Toxicodependências.

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