Do IOnline
O consumo de tabaco está a diminuir em Portugal. Os impostos são elevados e encarecem o preço final do produto, aumentaram as proibições ao fumo em espaços públicos, alargou-se a percepção de que o tabaco prejudica a saúde, mas parece que a crise veio reforçar ainda mais a noção de que fumar (um produto caro) é, cada vez mais, um "luxo" pouco compatível com os tempos de crise.
Um estudo da Direcção-Geral de Saúde (DGS), divulgado esta semana, conclui entre 2007 (antes da nova lei do tabaco entrar em vigor) e 2009, registou-se uma quebra de 11% nas entradas de cigarros no mercado português. Comparando com a situação em 2008, os números citados pela DGS (fornecidos pela Associação Nacional de Grossistas), mostram que a entrada de cigarros até subiu ligeiramente (cerca de 2%), mas não recuperou do embate que o novo ambiente de restrição - legal e financeira - teve nos hábitos dos consumidores, sobretudo dos que já fumam.
Ainda que a entrada de cigarros no mercado não seja igual a consumo (porque há tabaco que não é comprado), Mário Carreira, o coordenador da DGS para esta área, acredita que "trata-se de um bom indicador que aponta para uma clara redução no número de cigarros fumados".
"Não quer dizer que haja menos fumadores: haverá é mais contenção no consumo. Há pessoas estão a fumar menos, muitos a deixar e muitos que recusam entrar porque estão mais conscientes das consequências".
Porquê? "Fumar em espaços públicos tem hoje limites mais apertados e o preço do tabaco é um desincentivo assinalável", constata.
E a crise ajuda a desmobilizar os fumadores? "Isso não está medido, mas é natural que as condições económicas também sejam um desincentivo". "Claro que pode acontecer o contrário: mais stress e ansiedade podem acelerar o consumo, mas felizmente vemos que não é essa a tendência geral; pelo contrário", observa o responsável do Ministério da Saúde.
Luís Rebelo, presidente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo (COPPT), não tem dúvidas de que os impostos, que agravam dramaticamente o preço final no consumidor, "são o principal travão ao consumo". O professor, que lidera a estrutura onde estão integradas a Liga Contra o Cancro, a Sociedade de Cardiologia ou a Sociedade de Pneumologia, refere que "nas consultas, as pessoas queixam-se muito do dinheiro que hoje gastam no tabaco e isso é algo que as motiva a procurar uma saída". "Nesse sentido, já propusemos ao ministério um novo enquadramento onde se dê mais apoios públicos aos medicamentos e às consultas no combate ao hábito que ainda são muito caras", sublinha. A confederação está também a trabalhar numa proposta de lei mais restritiva que aponta "de forma mais exigente" para os estabelecimentos nocturnos. Até 2011, quer ver a situação regularizada.
Fonte oficial da maior produtora do país, a Tabaqueira/Philip Morris (responsável pelas marcas Marlboro, L&M, Chesterfield, SG, Português), alerta que a companhia "não está em condições de comentar o relatório", mas garante que "as vendas em 2009 - que reflectem o consumo legal e não as entradas de produto no mercado - estabilizaram". Já 2008, o primeiro ano em que a lei vigorou e em que houve uma subida significativa na carga fiscal, foi um de grande retracção no negócio da multinacional: "As vendas caíram cerca de 10%". Os números são coerentes com os da DGS e mostram que não houve uma correcção no consumo depois daquele embate. No entanto, a Tabaqueira chama a atenção para o facto da DGS "nunca referir a questão do contrabando que vem de Espanha e do tabaco contrafeito que entra no país; podemos ter um desvio do consumo do tabaco legal para o ilegal".
Os números oficiais da DGS dizem que entraram no retalho cerca de 12,4 milhões de cigarros (1,24 milhões de maços), existem cerca de 80 mil pontos de venda de tabaco e 130 distribuidores (grossistas).
Na Europa, Portugal nem é dos países com maior incidência de fumadores per capita (no total de habitantes). Contudo, lidera no número de cigarros por fumador.
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