sexta-feira, 2 de abril de 2010

Apreensão de LSD dobra na capital

Do Correio Braziliense

O crack tornou-se um problema crônico no Distrito Federal. Em 2009, a polícia apreendeu 175,61% mais pedras do que em 2008. A sociedade cobrou e as autoridades das áreas de segurança e saúde começaram a abrir os olhos para a situação. O governo lançou campanha nos meios de comunicação, as escolas e faculdades passaram a debater o tema e, apesar de ainda estar longe de ser extinto, o uso da droga já é tratado como um mal social. Enquanto o crack rouba os holofotes, um outro tipo de entorpecente, de forma discreta, começa a ganhar espaço na capital: o LSD (veja Para saber mais). De acordo com dados da Polícia Civil, no ano passado, foram apreendidos 2.202 microsselos de droga no DF. O número é 113,37% maior que o registrado em 2008, quando 1.032 unidades foram recolhidas (veja quadro).

Diferentemente do crack, que atinge o sistema nervoso central e cardíaco e pode matar, o LSD não leva o usuário ao óbito. Ainda assim, é uma droga muito perigosa, que vicia, causa alucinações e falta de controle. A ingestão do “doce”, como o entorpecente é chamado, provoca aceleração dos batimentos, dilatação das pupilas e aumento do suor. Em raras ocasiões, pode provocar convulsões. Ou seja, as consequências psíquicas são bem mais graves do que as físicas. Sob efeito do entorpecente, a pessoa tem reações diversas, que vão desde uma euforia prolongada ao pânico, passando por alucinações assustadoras. É aí que mora o perigo.

A professora de toxicologia da Universidade de Brasília (UnB) Eloísa Caldas afirma que a pessoa sob efeito da droga tem a percepção distorcida da realidade. Durante sua viagem psicodélica, pode achar que tem condições de saltar de um prédio sem se ferir ou mesmo enxergar uma ameaça numa pessoa que porta uma caneta. “É uma droga sintética que tem efeitos alucinógenos. Não mata porque sua toxidade é baixa, mas o usuário pode colocar sua vida e a de outros em risco quando está sob esse efeito. Um aluno me contou que fez o uso do LSD e teve a impressão que vários pés de alface estavam correndo atrás dele. Parece cômico, mas uma pessoa nesse estado pode cair num precipício correndo ou num rio e não saber nada. Em outras ocasiões, pode agredir uma pessoa porque tem a sensação de que está sendo perseguido”, conta a especialista.

Elite

Ao contrário das drogas mais populares, que podem ser encontradas sem maiores dificuldades, o LSD é disseminado em festas e boates frequentadas por jovens de classe média alta. Os traficantes também pertencem à elite. Normalmente, são universitários oriundos de famílias com alto poder aquisitivo. O mercado negro do LSD é mais pulsante nas festas raves e em boates badaladas.
Para prolongar mais a excitação durante a balada, homens e mulheres fazem uso indiscriminado do alucinógeno. Quem vende o entorpecente nesses ambientes dificilmente é notado. O LSD possui menos de 3cm e pode ser escondido com facilidade em qualquer lugar. O delegado-chefe da Coordenação de Repressão a Drogas (Cord), João Emílio de Oliveira, diz que já flagrou usuários escondendo o “doce” até mesmo na bateria de celular. “Como é uma droga pequena, até mesmo numa abordagem é difícil localizá-la”, conta.

Para o delegado, é complicado avaliar se o incremento nas apreensões também reflete o aumento de usuários. “Quando intensificamos as operações policiais, naturalmente vamos dar mais flagrantes. Agora, é difícil precisar se essa droga está se expandindo”, pondera.

Segundo João Emílio, as prisões por uso de LSD e outras drogas sintéticas estão se tornando mais frequentes devido ao serviço de inteligência da Cord, que há algum tempo começou a monitorar as festas raves e boates dos lagos Norte e Sul, asas Sul e Norte, entre outras áreas nobres. Agentes infiltrados em meio aos frequentadores observam de perto a atuação de quem vende o entorpecente. O delegado esclarece que a intenção do serviço velado não é agir na festa, prendendo o traficante no momento da venda clandestina e, sim, saber a origem do produto ilícito e se o traficante age com comparsas. “O objetivo da Cord não é prender o usuário da droga sintética e, sim, a fonte. Quando identificamos um traficante passamos a monitorá-lo. Saber onde ele compra a droga e prender outros que também contribuem para o tráfico são os principais focos”, conta o delegado.

Compare*

Crack: aumento de 175,61%
LSD: aumento de 113,37%
Maconha: aumento de 29,65%
Merla: aumento de 19,51%
Haxixe: diminuição de 47,69%
Cocaína: diminuição de 25,29%
Ecstasy: diminuição de 27,09%

(*)Dados de apreensão da Polícia Civil do DF, comparando 2008 e 2009

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