Fonte: O Globo
Com exceção de Renato Cinco (PSOL-RJ), quem apostou no tema teve votação inexpressiva
RIO - O candidato a vereador que baseou a campanha na legalização da maconha viu a aspiração política se dissipar feito fumaça com a abertura das urnas. Trocadilhos à parte, a apuração dos votos revelou a rejeição dos eleitores aos nomes associados à liberação da erva. Com exceção do sociólogo Renato Cinco (PSOL-RJ), eleito para a Câmara Municipal com 12.498 votos, os demais candidatos que apostaram no tema tiveram votação inexpressiva.
Foi o que aconteceu com o petista André Barros, que também disputou uma vaga no Legislativo do Rio, mas obteve apenas 1.823 votos. André é advogado e, assim como Renato, é figura assídua na Marcha da Maconha. Em Rio das Ostras, a candidata Mel Marquer, também do PSOL, conquistou apenas 26 sufrágios. Em Nova Iguaçu, Núbio Revoredo (PV) terminou a apuração com somente 307 votos.
1,5 milhão de consumidores
Fora do estado, o destaque fica para os candidatos tucanos Mariana Marques e Lucas Oliveira, que disputaram vagas no Legislativo de Florianópolis (SC) e também tiveram pequena votação: ela conquistou 216 votos e ele, 1.115. Lucas chegou a usar um boneco, chamado de presidente THC, numa referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, integrante da Comissão Global de Políticas sobre Drogas. A entidade, que reúne figuras notáveis de 15 países, elaborou relatório propondo uma nova estratégia de enfrentamento às drogas.
Se a escolha da bandeira da legalização visava a atrair os votos dos consumidores — 1,5 milhão de pessoas admitiram usar a substância diariamente, de acordo com o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), divulgado em agosto pela Universidade Federal de São Paulo —, a estratégia não deu certo. Em Curitiba, no Paraná, por exemplo, o candidato a vereador Índio (PSL) conseguiu apenas 513 votos, ficando fora da Câmara da cidade.
Para o cientista político e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF) Márcio Malta, a votação conquistada pelo sociólogo Renato Cinco não tem relação com o fato de ele ser um ativista da Marcha da Maconha. Malta ressalta o momento político vivido pelo Rio, com a campanha do deputado estadual Marcelo Freixo à sucessão municipal, que atraiu o eleitorado jovem. O cientista político lembrou ainda que Renato sempre teve participação política, desde os tempos de escola e universidade, e já concorreu a outros cargos eletivos antes do último pleito:
— O candidato do PSOL não ficou limitado ao tema da maconha, que sem dúvida ainda é encarado como tabu pela maioria dos eleitores.
A socióloga e cientista política da Fundação Getulio Vargas (FGV) Dulce Pandolfi concorda que Renato Cinco se beneficiou da onda provocada pela candidatura de Freixo. O que explica o fato de o petista André Barros não ter sido eleito. Já em cidades como Rio das Ostras, Nova Iguaçu e em outros estados, Dulce ressalta as diferenças regionais que refletem nos perfis dos eleitores.
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