do UNIAD
O artigo publicado em 30/7 sobre a questão da maconha dita "medicinal" contém uma série de inverdades bem como injustificáveis ataques pessoais a pesquisadores de primeiro nível no Brasil. Não pretendo advogar pelos capazes Dr. R. Laranjeira e Dra. A. Marques - mas não posso silenciar frente às meias verdades e as claras mentiras do artigo em questão.
Primeiramente afirmo, sem nenhuma margem de dúvida, que não existe consenso sobre qualquer vantagem médica de fumar maconha. Na maioria dos lugares onde foi permitido o uso da chamada "maconha medicinal" ela é fumada e não inalada, como afirmam os autores. Se eles não sabiam disto então todo o artigo deles mostra-se um engodo. Se sabiam, é vergonhoso que escondam a informação. Liberar ou legalizar o uso da maconha é um erro e, se adotado, muito difícil de ser reparado. Portugal liberou o uso em 2001 (indo contra diretrizes da maioria dos países Europeus) e os resultados são terríveis. Possuo todos os dados, mas menciono apenas alguns: O uso na vida aumentou de 7,1% (2001- antes da liberação) para 12% (2007) e possivelmente é ainda maior hoje. O uso do Hashish subiu 20% e os homicídios relacionados a drogas aumentou absurdos 40% (EMCDDA 2008).
A ciência não vê a maconha como medicamento. Ainda que algumas pessoas bem-intencionadas e uma maioria mal-intencionada tente fazer o público crer diferente, as principais entidades médicas do mundo rejeitam com veemência as tentativas de fazer crer que a maconha possa ter uso médico - ainda que se esteja estudando a se há nela algum componente para uso médico. Entre as entidades que fizeram declarações inequívocas contra a "maconha medicinal" cite-se: American Medical Association, National Multiple Sclerosis Society, British Medical Association, American Cancer Society. O próprio IOM (The Institute of Medicine) que advoga por mais estudos sobre uso medicinal da maconha atesta inequivocamente que “os efeitos dos canabinóides nos sintomas
estudados são geralmente modestos, e na maioria dos casos existem medicações mais eficientes” A organização de Médicos Oncologistas Americanos afirma que os estudos sobre uso medicinal do THC devem se concentrar na forma de emplastros e jamais na maconha fumada ou inalada.
Nada do que está acima é novidade. São posições afirmadas e reiteradas continuamente e que os autores do artigo citado fingem ignorar para colocar uma posição político-ideológica dissociada da ciência e da verdade.
No que tange à posição de Fernando Henrique Cardoso há mais uma vez erro (intencional?) na interpretação de suas posições. Entre 20 e 25 de abril deste ano eu mantive com FHC uma troca de correspondência exatamente com o foco na questão da maconha. Apesar de não ser assunto público, FHC (e seus assessores) asseguraram por escrito que ele não é a favor da liberação do uso de drogas, em particular da maconha.
O debate sobre este assunto é rico é longo. Neste debate os argumentos têm de ser verdadeiros, capazes de prova científica ou passa a ser apenas mais uma discussão de botequim. Eu, com os conhecimentos que tenho, não aceito "papo de botequim". Se nos mantivermos em alto nível, estou pronto para o debate sem ideologia, sem mentiras, com apoio científico. E, mais uma vez, reitero que confio muito mais nas conclusões de estudiosos como o Dr. Ronaldo Laranjeira e a Dra. Ana Marques do que em artigos de pessoas que - pelo menos até o momento - não mostraram qualidades investigativas reconhecidas pela comunidade acadêmica!
Marcos L. Susskind
Não é um remédio como os de fármacia, com gosto ruim, é daqueles de vó, que curam de tudo. "Porque os remédios normais nem sempre amenizam a pressão". @IVeXX
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