do R7
Embora o consumo do crack já seja algo comum nas ruas dos grandes centros urbanos do país, ainda faltam dados nacionais sobre o número de vítimas e o perfil dos usuários da droga no Brasil. Em entrevista ao R7, o secretário-executivo do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), ligado ao Ministério da Justiça, Ronaldo Teixeira da Silva, afirmou que as informações disponíveis ainda são contraditórias e que a primeira grande pesquisa sobre o tema, elaborada pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), só deve sair em dezembro deste ano.
- Tudo o que se tem dito sobre o crack é inverdade ou é uma eventual estimativa, não é verdadeiramente o que ocorre. [...] Só para se ter ideia, nós temos uma pesquisa recente que indica que 5% da população de rua faz uso do crack e, no Rio Grande do Sul, um outro levantamento aponta que o número chega a 39% entre os moradores de rua. [...] Então, embora essas pesquisas sejam importantes, os números ainda são muito díspares.
De acordo com o Ministério da Saúde, o levantamento mais recente sobre o consumo da droga é de 2005, feito pelo Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) em 108 cidades brasileira. A pesquisa aponta que 0,1% da população fumou crack nos 12 meses anteriores à pesquisa. No mesmo período, 2,6% haviam fumado maconha, 1,2% tinha utilizado solvente, 0,7% havia usado cocaína, enquanto 49,8% das pessoas consumiram álcool.
O ministério afirma que não há números absolutos com relação ao consumo da droga no país, mas cita outra pesquisa, realizada por universidades federais do Rio de Janeiro e da Bahia, como responsável para traçar o perfil do usuário.
Ainda na tentativa de dar um raio-x do problema , o psiquiatra especializado no tratamento de dependentes do crack Pablo Roig apresentou na última quarta-feira, na Câmara dos Deputados, uma estimativa feita com base em dados do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Segundo ele, o número de usuários hoje no Brasil está em torno de 1,2 milhão e a idade média para início do uso da droga é 13 anos. O dado foi divulgado no lançamento da Frente Parlamentar Mista de Combate ao Crack.
O assunto também será um dos destaques do 1º Simpósio Sulamericano de Políticas sobre Drogas, que acontece entre esta quinta-feira (6) e o sábado (8) em Belo Horizonte (MG). Teixeira é um dos palestrantes no evento e deve falar sobre os impactos da droga sobre a segurança pública no Brasil.
Combate
De acordo com o secretário-executivo do Pronasci, embora os dados sobre o uso da droga no país sejam escassos, o governo federal tem enfrentado o problema por meio de duas frentes: pela repressão à venda do crack, com o aumento da fiscalização das fronteiras e a criação dos “Territórios da Paz”; e pelo tratamento dos usuários.
- Até o final do ano passado, a Polícia Federal fez 74 grandes operações para inibir o ingresso das drogas no país.
Para Teixeira, a facilidade do ingresso da droga pelas fronteiras do país e a rapidez com que os seus efeitos são sentidos no corpo contribuem para a disseminação do consumo do crack não só entre moradores de rua, mas também entre jovens de classe média.
- Por um lado nós temos uma sociedade que tem pressa em fazer tudo, e por outro, temos o crack, que nesse aspecto [dos efeitos sobre o corpo] é muito instantâneo, e é uma droga barata. [...] Então é neste contexto que ele pode crescer entre a classe média.
O secretário lembra, porém, que ainda não há números que comprovem a disseminação da droga entre os jovens de classe média, dado que também deve integrar a pesquisa a ser lançada no final do ano.
O coordenador do programa destacou a importância de debater o tema em eventos como o que começa hoje, e defendeu o diálogo com outros países da América Latina que enfrentam o problema, como Bolívia, Colômbia e Paraguai.
Segundo ele, embora o crack seja o tema do momento, a sociedade não deve perder de vista os estragos que outras drogas causam, e cita o álcool, a maconha e a cocaína.
- Ele [o consumo de crack] é preocupante, mas dentro do grande contexto das drogas. [...] Temos que combater o ‘romantismo’ que se tem torno das drogas. Não tem nada de romântico em usar drogas, não só o crack.
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