Fonte: Band
Pré-candidata à prefeitura de São Paulo pelo PPS, ela afirma que não tem medo de mostrar a sua opinião e fala dos projetos para 2012
Aos 44 anos, Soninha Francine disputará pela segunda vez as eleições para a prefeitura de São Paulo. Depois de um quinto lugar no primeiro turno em 2008 (cerca de 270 mil votos), a ex-vereadora afirmou que espera um resultado bem diferente em 2012. Para isso, ela promete não fugir dos temas polêmicos em sua campanha pelo PPS. E dentre os assuntos abordados está o uso da maconha.
Em 2001, Soninha acabou demitida da TV Cultura após dar entrevista à revista Época e afirmar ser usuária de maconha, fato que teve grande repercussão na época. Dez anos depois, o assunto voltou a ganhar destaque na mídia em três frentes: o documentário com Fernando Henrique Cardoso na defesa da descriminalização, marcha da maconha em São Paulo e a recente confusão envolvendo alunos da USP com policiais.
Soninha, aliás, afirmou com exclusividade ao Portal da Band que ver FHC defender a descriminalização da maconha foi “um sonho” realizado. A candidata também defendeu o kit-homofobia planejado por Fernando Haddad, ministro da Educação e provável candidato do PT às eleições em São Paulo.
Soninha, o que te motivou a disputar a prefeitura de São Paulo mais uma vez?
Entrei para a política porque as outras formas de tentar lutar para mudar o mundo não me satisfaziam mais. Quis ser vereadora, e consegui. Foi uma experiência incrível do ponto de vista didático. Aprendi em uma semana de mandato muito mais sobre política do que uma vida inteira. Quando terminei, tive duas conclusões. Não queria sair mais da política, mas queria ter mais poder. Por isso estou me candidatando novamente para a prefeitura [em 2008 ela também concorreu pelo PPS].
Qual será o foco de sua campanha em 2012?
A principal proposta é melhorar a distribuição na relação entre casa e trabalho. São Paulo é uma cidade muito desigual. A gente olha para a Oscar Freire e vê teatro, cinema e biblioteca. Já Guaianazes é um mundo totalmente diferente. Cada vez menos gente mora nos locais de emprego. Então se você não criar condições para que a população more na região central, onde existem os empregos, você nunca vai resolver a questão do transporte, porque elas vão morar longe e levarão horas para chegar ao trabalho. Não dá para transportar 2,5 milhões de pessoas da Zona Leste para o Centro com qualidade, com todo mundo saindo no mesmo horário.
PT e PSDB ainda não definiram candidatos. Porém, existem outros partidos com nomes já encaminhados. Você acredita que pode surpreender?
Acho que tenho uma chance melhor agora. Se os partidos favoritos [PT e PSDB] vierem com nomes desconhecidos, talvez consiga brigar pelo segundo turno. É verdade que não fui candidata em 2010, e outros concorrentes tiveram mais exposição, como o Netinho [PCdoB] e o Russomano [hoje no PRB]. Mas começo as pesquisas num patamar maior do que da outra vez, com 6% dos votos, e até 11% em alguns cenários. Isso é muito entusiasmante.
Na campanha presidencial de 2010, você coordenou o site do Serra. Espera por um apoio dele, apesar de o PSDB provavelmente ter candidato próprio?
Eu gostaria muito, mas acho impossível. Ele até pode ter alguma simpatia pela minha candidatura, mas o PSDB mesmo está tão complicado...
Você coordenou a subprefeitura da Lapa em 2009, na gestão de Gilberto Kassab. O que você destaca de positivo e negativo no atual governo?
Destaco a atuação no meio-ambiente, com Eduardo Jorge [secretário do Verde e Meio Ambiente]. Ele é o melhor da pasta no Brasil. Claro que contou com o apoio do Kassab para tomar medidas muitas vezes impopulares, como a inspeção veicular, que já estava prevista há séculos, mas ninguém fazia. As áreas da Cultura e Educação também tiveram bons programas. De negativo, aponto a Saúde. Eu fui marcar uma consulta na UBS (Unidade Básica de Saúde) e consegui uma data para fevereiro. Ou seja, é melhor você adivinhar que vai ficar doente e marcar agora para poder ser atendida. Também demorou muito para o Kassab mexer no transporte coletivo. Eu fui subprefeita, e todos os tipos de problemas chegavam até mim. Porém, na gestão Kassab os subprefeitos não tiveram muita autonomia. Eu tenho uma visão diferente dele neste ponto.
Você chegou à política em 2004, portanto já tem uma boa vivência de como funciona as coisas. Atualmente, os eleitores não estão confiantes nos políticos devido aos diversos escândalos. É realmente possível fazer política sem corrupção?
É possível, mas é difícil. A corrupção é muito variada. Ela é criativa, enraizada. Os próprios cidadãos se acostumam. Seja político, empresário ou morador carente. Só muda a escala. É superdifícil fazer a máquina pública funcionar. É preciso liderança. O prefeito tem de cobrar, fazer as coisas acontecerem. Se não existir uma coisa muito bem coordenada, vinda de cima, e as chefias não forem bem determinadas, a corrupção vai tomar conta. Outro ponto importante é acabar com o campo fértil da corrupção. Nós temos um sistema muito complicado. Muitas vezes, um engenheiro busca algo de um decreto de 1937 para impedir uma aprovação de uma planta, e isso faz com que uma pessoa, por exemplo, busque uma alternativa para uma aprovação rápida. Existe muita burocracia. A própria lei cria condições para um abuso de autoridade, em vários setores. É preciso facilitar o sistema.
Alguém já lhe ofereceu suborno?
Um suborno direto não. Mas eu já vi coisas estranhas. Logo quando eu me elegi vereadora [em 2004], participei de uma reunião com minha bancada, eu era do PT [ficou no partido de Lula até 2007, quando foi para o PPS]. Fazíamos oposição ao Serra. E um vereador da oposição disse que seria da base, numa conversa bem estranha. Eu pedi desculpas, levantei e saí. Nas outras reuniões, as coisas pararam de ser discutidas na minha frente, eu virei uma persona non grata. Outra coisa é com relação às doações de campanha. Teve um empresário uma vez que queria fazer uma doação para minha campanha de vereadora, mas ele não queria ser identificado. Pois ele não queria dar brecha para que dissessem depois ‘tá doando porque quer vantagem depois’.
Na campanha presidencial de 2010, vimos uma constante preocupação dos políticos com as opiniões diante de temas polêmicos. Você sempre foi aberta e deixou clara sua posição. Não teme que isso possa causar algum prejuízo?
Sei que isso pode me prejudicar. Mas eu não temo. Essas coisas que eu defendo têm relação com o fato de eu querer estar na política. Se eu preciso abrir mão do que acredito, então para que eu vou estar na política? Eu vejo que as pessoas respeitam quem é sincero e coerente. Uma senhora bem idosa uma vez disse que me admirava, apesar de não concordar com alguns pontos. Isso foi muito positivo. Claro que existem pessoas que rejeitam completamente a minha opinião. Se eu digo que sou favorável à maconha, muitos acham que eu estou incentivando que todos fumem sem problemas...
Você acabou demitida em 2001 da TV Cultura por ter admitido o uso de maconha. Ver atualmente pessoas como o Fernando Henrique Cardozo defendendo a descriminalização foi uma vitória pessoal?
A fala do FHC foi o meu sonho. Já em 2001 eu sabia de muita gente importante que tinha uma opinião formada e não tinha o perfil do Marcelo D2. Eram médicos, advogados, pais de família. Eram fumantes ou não fumantes favoráveis à legalização. Acharam um absurdo na época. E, caramba... Eu trabalhava pra cacete, sustentava meus filhos... Então, achei que era importante dizer que fumava maconha e que não era retardada. Fiquei muito feliz em ver o FHC falando do assunto, de ver pessoas como o Dráuzio [Varella, médico, colunista da Band].
A questão da descriminalização da maconha voltou à tona nesta semana com o ocorrido na USP, em que estudantes protestaram após a prisão de três universitários...
A polícia é obrigada a agir. Ou fingir que não estava ali. Mas veja como é curioso. Se os moleques tivessem em coma alcoólico, eles seriam levados para o pronto socorro. Mas como era maconha, não... O fato é que beber é estimulado. E fumar maconha é crime. Comprar maconha é crime. Vender maconha é crime... Só os criminosos lucram, e quem quiser fazer tudo dentro da lei, pagando imposto, não pode.
Você sempre foi uma defensora dos direitos dos homossexuais. Concorda também com o kit-homofobia que o Haddad, seu possível adversário, queria distribuir nas escolas?
Nunca cheguei a ver o tal kit. Mas se existia algum problema, você tinha de corrigir, não suspender. Escola não serve para ensinar apenas química, matemática ou história, de forma ultrapassada e enciclopédica. Tanto é que existem inúmeros projetos legislativos para educação ambiental, política, de trânsito e social. Tudo isso tem de passar pela escola, e violência contra homofobia também. As pessoas que criticaram, disseram que o kit faria apologia. A própria Dilma disse... Meu Deus, isso é um tremendo absurdo. Esse conteúdo não seria mostrado para crianças, mas para adolescentes, que estão numa fase da vida em que começam a ter a vivência sexual. Se não tiver essa educação na escola, vai ter aonde?
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