Fonte: Extra
Os cadernos do tráfico dão indícios de que os traficantes conviviam com policiais sem a necessidade de troca de tiros, colocando “sócios de farda” na folha de pagamento do crime organizado. As anotações revelam o preço da impunidade: R$ 259.715 em 307 dias, divididos entre “arrego” e “liberdade”.
O “arrego”, propina para a polícia evitar batidas e apreensões, custou R$ 153.150 aos cofres do tráfico. A “liberdade”, taxa para que um traficante detido seja solto antes de ser levado à delegacia, chegou a R$ 106.565.
O “arrego” custava até R$ 13.150 por fim de semana, em pagamentos feitos de sexta a domingo, e funcionava como uma espécie de “seguro-traficante”, para evitar prejuízos com apreensões.
Quando um policial furava o esquema, ele poderia cair em outra teia de corrupção, recebendo pela “liberdade” do bandido. Enquanto um representante buscava o dinheiro, o traficante aguardava para ser solto no banco de trás da viatura.
No dia 2 de maio, o tráfico pagou R$ 700 pela liberdade do traficante identificado como Suan. Três dias depois, nova propina pela liberdade de Suan, por R$ 7.500 — valor baixo em comparação ao preço de outros bandidos, como Neguinho, que custou R$ 15 mil para continuar nas ruas, na semana seguinte.
O valor baixo pode ter motivado nova prisão de Suan, que constava na contabilidade da venda da maconha. No mês seguinte, dia 5 de junho, o tráfico registrou pagamento de R$ 5 mil com a rubrica “alvará”. A partir disso, o caderno registra pagamentos semanais ao traficante e seus familiares.
A prisão dele deu prejuízo de R$ 26.500 à organização. A polícia teve acesso às anotações, mas não conseguiu identificar o traficante, alegando que seu codinome não era conhecido.
Prisões, só do baixo escalão
O maior pagamento por “liberdade” foi de R$ 17.500, feito no dia 12 de julho do ano passado para que a polícia liberasse o traficante identificado como Gula. De acordo com investigações feitas pela polícia, o valor é baixo e significa que só foram feitas prisões de traficantes de menor escalão.
— Um líder vale muito mais — diz um policial civil.
No dia 17 de janeiro, uma anotação de “arrego” de R$ 4.200 é destinada a um homem identificado como Bocarra, apelido do traficante Alex Sandro dos Santos, de 25 anos, que era chefe do tráfico na Favela de Antares, em Santa Cruz, e foi preso em julho do ano passado.
O gasto com a polícia ia além da propina. Anotações mostram que o tráfico também perdia carregamentos com drogas para a polícia.
Uma contabilidade no dia 24 de maio registra prejuízo de R$ 300 de droga “pros cana” — como os policiais são chamados pelos traficantes, na gíria. O registro foi feito nas anotações do zirrê, mistura de maconha com crack.
A expressão “vapor rodô” também aparecia com frequência, como na contabilidade de 12 de julho, que fazia alusão ao vendedor que tinha carga apreendida.
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