Rio de Janeiro - A ocupação do Conjunto de favelas do Alemão e da Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio, que hoje (28) completa um mês, representou o primeiro e importante passo para a reconquista do território pelo Estado, mas ainda há um “largo caminho” a ser percorrido para de fato garantir cidadania à população que vive na localidade. A avaliação é do especialista em ciências criminais Wálter Maierovitch. Segundo ele, o Estado precisa investir fortemente nos jovens que estavam a serviço do tráfico para inseri-los na sociedade de forma digna.
“Aquele território não era do Brasil, mas da facção criminosa que o comandava. Ocorreu um resgate. Mas ainda há um largo caminho. Por exemplo, é preciso pensar imediatamente nos jovens que foram cooptados pelo crime organizado, dando a eles instrumentos [de ressocialização]. Não adianta colocar todo mundo nos presídios”, disse Maierovitch, que é também fundador e presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone – instituição cujo nome homenageia o magistrado italiano que lutou contra a máfia na Itália e acabou morto em um atentado mafioso.
Segundo ele, o fato de as ações da polícia terem sido feitas “dentro da legalidade” e com coordenação, indica que é possível desarticular as organizações criminosas chamadas por ele de “pré-mafiosas”, pois se impõem sobre territórios que conquistam e sobre parte da sociedade.
Maierovitch acredita que para evitar a rearticulação de criminosos que tenham migrado para outras áreas é fundamental atacar a economia do tráfico. “O único objetivo deles é o lucro, o dinheiro”, ressaltou. Para isso, na opinião do especialista, uma das estratégias é o acompanhamento da movimentação financeira em municípios de fronteira, usados como entrada de drogas, armas e munição no país.
“Existem muitas cidades de fronteira que têm um movimento financeiro infinitamente superior à sua capacidade financeira. Esse é um indicativo evidente de que o crime atua ali. Com isso, se pode verificar o percurso do dinheiro para se chegar definitivamente à cúpula das organizações [criminosas]”, explicou.
O especialista em ciências criminais citou outra técnica de inteligência policial, que vem sendo usada na Itália contra a atuação da máfia. Trata-se da infiltração de agentes altamente preparados, que se apresentam como lavadores do dinheiro para inserir as quantias geradas pelo crime em atividades formalmente estabelecidas.
“Dessa forma, também se chega à cúpula do crime. Mas aqui no Brasil ainda estamos muito longe dessa técnica, que é uma das mais modernas no combate ao crime organizado e permite fazer grandes apreensões com a identificação de onde esse dinheiro [ilícito] se encontra”, afirmou.
Ainda como forma de combater a atuação dos chefes do tráfico, que muitas vezes continuam comandando o crime de dentro dos presídios, ele também defendeu a criação de uma polícia penitenciária. O objetivo seria fiscalizar os presídios que recebem a liderança das organizações ligadas ao tráfico e verificar situações de enriquecimento ilícito de agentes e diretores dessas instituições.
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