domingo, 15 de agosto de 2010

Maconha faz mal?, por Sérgio de Paula Ramos*

do UNIAD

Sou dos que pensam que não cabe a um especialista determinar como uma sociedade deve se comportar frente a este ou àquele tema. Nosso dever é dar informações científicas e permitir que, em posse delas, a própria sociedade decida sobre seus caminhos.

Com a maconha, é isso que deve ocorrer. O especialista alerta que seu uso por jovens, comprovadamente, associa-se com posterior queda no rendimento escolar, experimentação de outras drogas, depressão e esquizofrenia. Ainda que jovens que usaram maconha mais do que 100 vezes na vida (ou seja, duas vezes por semana ao menos por um ano), ao chegarem aos 25 anos, terão menos diplomas universitários e estarão menos empregados que seus iguais não usuários.

Outro fato relevante é que maconha, na história natural de um dependente químico, é a segunda droga de experimentação, sendo a primeira o álcool; daí porque se diz que ambas são drogas de entrada para as demais. Igualmente, é de se destacar o fato de que quanto mais uma droga for oficial ou oficiosamente liberada, maior será seu consumo e os problemas decorrentes dele.

Perguntados sobre por que experimentaram maconha, os jovens respondem que por curiosidade e pressão do grupo. Já com os não experimentadores a resposta é que não experimentaram porque é proibido e faz mal.

Tais fatos estão muito bem documentados por uma plêiade de trabalhos científicos de todos os quadrantes. Em ciência, primeiro fazemos uma observação, depois usamos uma metodologia consistente para verificar se nossa observação procede; depois, ela é compartilhada por outros pesquisadores, até que se transforme num consenso.

Não é o caso desse trabalho, publicado há 11 anos pelo Dr. Dartiu Silveira, citado pelo jornalista Marcos Rolim. Sua amostra foi pequena, seu tempo de seguimento insuficiente, e as demais variáveis não neutralizadas. Tais imprevidências impossibilitaram que a comunidade científica compartilhasse das conclusões do autor e, decorridos todos esses anos, desconheço outro trabalho que tenha chegado aos mesmos resultados; e mais, tampouco tenho informação de que algum serviço de dependência química no mundo esteja se regendo por essa orientação terapêutica, de sugerir que uma porta de saída para o crack seja usar maconha. Aliás, no passado, cometia-se a ingenuidade de se achar que cachimbo ajudaria o tabagista a parar de fumar ou que calmantes, tipo diazepínicos, ajudariam alguém a parar de beber.

Portanto, a título de resumo, o uso de maconha por jovens é deletério, sua liberação aumentará o consumo e os problemas dele decorrentes. Em posse de tais informações, que a sociedade decida o que quer fazer. Até lá, o debate robusto e elegante ajudará; e que não se tome como atitude antiética lembrar fato verdadeiro e de conhecimento público.

* Psiquiatra e psicanalista, coordenador da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus

2 comentários:

  1. Bah, como alguém que se diz especialista pode dizer tantas bobagens?

    "sua liberação aumentará o consumo"

    Em que mundo ele vive? Só se for no Planeta Perfeito, um lugar mágico onde as pessoas não usam drogas, todos se amam e vivem em paz e harmonia! Não entendo como uma pessoa que dedica sua vida ao tema das drogas pode ser tão mal-informada e mal-intencionada. Creio que o "Dr." - que não usa drogas e por isso tem diploma - não deve conhecer os países onde as drogas são LEGALIZADAS, não LIBERADAS. Tudo que ele precisava fazer era dar uma lida em algum artigo que fosse de algum país onde exista regulamentação do uso de drogas recreativas, mas não, ele prefere mentir! É impossível dizer o resultado exato que a LEGALIZAÇÃO teria no Brasil, mas tomando por base países onde esse passo já ocorreu, vemos, claramente, que o consumo de drogas não aumenta a longo prazo.

    O problema desse tipo de gente é que eles criam crenças falsas com uma força tão grande que suas vidas inteiras parecem depender disso, como, por exemplo, que se as drogas forem trazidas à lei - sim, esse é o significado de LEGALIZAR, tirar da ILEGALIDADE do tráfico - será uma festa da uva, qualquer um poderá ir e comprar o que quiser. MUITO PELO CONTRÁRIO, hoje em dia qualquer pessoa pode ir numa Boca de Fumo, que todos sabem onde ficam, e comprar a droga que quiser, tendo 10, 20 ou 80 anos.

    Bah, é revoltante! Enquanto isso ele prescreve medicamentos muito mais fortes que as drogas recreativas usadas para "salvar" viciados em drogas! E ele não vê problema nenhum nisso! Mas claro, um médico receitando um remédio com centenas de efeitos colaterais pode, mas uma pessoa usar uma planta com efeitos colaterais muito mais leves é perigoso e deve ser proibido! Até porque, convenhamos: essa planta não tem propriedades medicinais!

    Bah, que asco! Quanta hipocrisia!

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  2. A liberação aumentará o consumo por jovens?

    Até parece que traficante pede carteira de identidade!

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