domingo, 30 de maio de 2010

Cristopher Coke, o traficante que controla a Jamaica

do Terra

Quando o primeiro-ministro jamaicano Bruce Golding emitiu um discurso em cadeia nacional de televisão para anunciar a intenção de capturar e extraditar para os Estados Unidos o chefe do tráfico local Christopher "Dudus" Coke, ele não podia prever a onda de violência que tomaria conta dos subúrbios da capital Kingston, especialmente a região de Tivoli Gardens, nos dias seguintes.

Na sexta-feira, 21 de maio, gangues simpatizantes de Coke incendiaram seis delegacias de polícia. O governo respondeu, no domingo (23), instalando estado de emergência por um período de um mês e, na segunda-feira, iniciando, uma violenta operação de repressão aos insurgentes que já fez dezenas de mortes.

Segundo o site de política internacional Foreign Policy, a influência de Cristopher "Dudus" Coke e dos chefes do tráfico locais pode ser vista em todos os segmentos da sociedade, incluindo o próprio partido do primeiro-ministro, o Partido Trabalhista da Jamaica (JLP, na sigla em inglês). De acordo com o site, ao mesmo tempo em que Golding cedia às pressões americanas para extraditar Coke, parlamentares governistas contratavam lobistas para pressionar Washington a retirar as acusações de tráfico de drogas e de armas contra o criminoso jamaicano.

A colaboração entre políticos e os Dons - nome dado aos chefes do tráfico local - data do início dos anos 80, segundo o Foreign Policy. Os políticos utilizavam os traficantes para angariar votos e, em troca, faziam "vistas grossas" às operações criminosas.

O maior exemplo dessa ligação foi a presença, em 1992, do então líder do JLP Edward Seaga no funeral do pai de Coke, Lester Lloyd "Jim Brown" Coke, responsável por transformar o tráfico de drogas em um negócio multimilionário no país.

Cristopher Coke, 41 anos, é acusado de ter assumido o lugar do pai e operar uma violenta estrutura de tráfico de cocaína e maconha centrada especialmente em Nova York, mas com ramificações em todos os Estados Unidos. O processo corrente na justiça americana também aponta que ele é um grande importador de armas de fogo.

Contudo, apesar de suas operações criminosas, Coke é visto com o um benfeitor para as classes mais baixas que vivem nos subúrbios de Kignston, como Tivoli Gardens, onde ele teria o seu quartel-general. Segundo o Foreign Policy, até mesmo as classes média e alta jamaicanas vêem Coke como um fator de estabilização nas zonas mais pobres de Kingston.

Segundo o Foreign Policy, a reação de Golding também é uma tentativa de resposta à escalada da violência na Jamaica. Nos últimos anos, o país apareceu seguidas vezes entre os cinco primeiros em listas de índices de homicídios anuais.

Contudo, para o romancista jamaicano Marlon James, mesmo que bem-sucedida, a caçada a Coke pode não representar um rompimento de laços entre políticos e criminosos. "Eu acho que eles vão perceber que ainda precisam um do outro. Há sempre outra pessoa para seguir de onde o último deixou. O dinheiro é muito bom e o negócio de tráfico de armas e drogas é simplesmente muito fácil. Políticos não sobreviverão sem o Kingston Oeste e eu acho que Kingston Oeste não sobrevive sem os políticos", disse James em entrevista ao Foreign Policy.

"É uma relação única em tantos sentidos. Políticos nunca entregaram um Don e esse não é qualquer Don", afirma o romancista.

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